"Ela não pode ser pai?": um estudo sobre a transparentalidade a partir de três casos de mulheres trans
Ano de defesa: | 2023 |
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Autor(a) principal: | |
Orientador(a): | |
Banca de defesa: | |
Tipo de documento: | Dissertação |
Tipo de acesso: | Acesso aberto |
Idioma: | por |
Instituição de defesa: |
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro Biomédico::Instituto de Medicina Social Hesio Cordeiro Brasil UERJ Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva |
Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: | |
Link de acesso: | http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/19450 |
Resumo: | Este trabalho analisa vivências parentais de mulheres trans, e utiliza a categoria analítica de transparentalidade. As pessoas trans, bem como as suas vidas, as suas percepções de si e os seus relacionamentos, principalmente com seus familiares, são inquestionavelmente marcados por um dos valores hegemonicamente estabelecidos na sociedade brasileira, chamado neste trabalho de cisheteronormatividade compulsória. Em paralelo a isso, o rápido avanço de tecnologias de comunicação das últimas décadas permitiu que cada vez mais pessoas acessassem internet, canais de televisão e outras ferramentas que viabilizam o conhecimento de diversas e diferentes informações e concepções de mundo, portanto de possibilidades de ser e estar no mundo. Essa maior acessibilidade torna mais visíveis as narrativas acerca das experiências de vidas não hegemônicas, como as de pessoas trans, que são representadas até hoje quase que exclusivamente pelos vieses e falas de pessoas cisgêneras. Tais representações são muito recorrentemente pejorativas, reiterando estigmas a elas associados, de abjetas, pecaminosas, doentias, criminosas, sofridas, vítimas, anormais, controversas e desprovidas de autonomia; e salientando vínculos de pessoas trans com temáticas de HIV/AIDS, prostituição, violência, criminalidade e marginalização. No entanto, desde os anos finais do século XX, as pessoas trans estão gozando de alguma possibilidade de falar por conta própria e de si próprias, quando, por exemplo, são convidadas a participar de documentários e programas de auditório de televisão, ou quando publicam vídeos e textos com seus próprios relatos e reflexões na internet. E este trabalho pretende analisar esses registros públicos dessas narrativas sobre mulheres trans que foram feitas por elas mesmas, enaltecendo suas falas. Mais especificamente, serão analisados os registros que tratam de casos de mulheres trans que exercem a parentalidade e em tais registros falam sobre como a transparentalidade afeta suas experiências de vida, suas identidades e seus relacionamentos. Cabe ressaltar que este trabalho é feito a partir da perspectiva de uma pesquisadora que também se configura como uma pessoa trans, que em sua subjetividade se enuncia como uma mulher transgênera não binária. Sem a pretensão de esgotar a discussão do tema com respostas que se presumam universalizantes ou desmistificadoras, busca-se levantar questões que permitam pensar como mulheres trans experimentam a parentalidade, por exemplo, ao enunciar a si mesmas como pais de seus filhos, numa peculiar forma de autoafirmação que foge a uma perspectiva binária de gênero, imposta pela cisheteronormatividade compulsória. Para tanto, será feita uma pesquisa qualitativa que se baseia na análise de registros textuais e audiovisuais que se encontram disponíveis para acesso público acerca de três mulheres trans. Tais registros consistem em documentários, entrevistas, participações em programas de auditório, falas em congressos, publicações textuais e autobiografias, nos quais tais mulheres trans e seus parentes dão relatos de suas vivências e percepções de mundo a respeito da temática da transparentalidade e questões outras que atravessem tal tema. Buscamos verificar a existência de tensão entre a trajetória de construção de identidade de gênero e as vivências parentais dessas mulheres trans que, concluímos, vivenciam uma parentalidade hierarquizada que nomeamos de parentalidade curinga. |