Os saberes do camponês da floresta: modo de vida, conflitos e etnoconhecimento seringueiro na RESEX Chico Mendes (AC)

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Choma, Jeferson Luiz
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8136/tde-16042019-140522/
Resumo: Nas décadas de 1970 e 1980, a resistência do movimento seringueiro travada na Amazônia contra os planos de expansão do capitalismo conduzidos pelo regime militar resultou na criação das Reservas Extrativistas (RESEX), territórios que garantiram a preservação do modo de vida tradicional e a autonomia econômica e cultural do camponês seringueiro. A criação das RESEX foi uma proposta original no que se refere a construção de um projeto diferente de reforma agrária que respeitasse o modo de vida dos seringueiros e pudesse consolidar sua emergente autonomia camponesa. Naquele momento, o modo de vida florestal das populações seringueiras (ALMEIDA, 2012) orientou a criação destes territórios. A prática da agricultura de subsistência, o fabrico da farinha, a caça e a pesca, os mais diversos usos de cipós, palhas, madeiras e outros materiais da mata, o conhecimento de ervas para curar doenças, as festas, os seres mágicos da floresta, tudo isso, ao lado da extração do látex e da castanha, compõe o modo de vida do seringueiro. Esse conhecimento sobre os múltiplos usos da floresta é fundado naquilo que Porto-Gonçalves (2003) define como uma nova matriz de racionalidade indígeno-cabocla. Tal racionalidade é a base para as condições materiais de sua reprodução alicerçadas nas práticas agroextrativistas, respeitando os ciclos para a sua exploração dentro da capacidade de recuperação das espécies de plantas e animais utilizadas. Mas também possui uma dimensão simbólica e faz da floresta um locus de conformação de sua subjetividade, portanto da cultura e sociabilidade seringueira. Desse modo, as RESEX também foram inovadoras no que concerne a criação de territórios de conservação ambiental no Brasil. Pela primeira vez o homem e natureza não foram percebidos como sujeitos desvinculados, posto que a garantia do acesso à floresta aos seringueiros foi tomada como condição para a conservação dos sistemas ecológicos. Nas últimas décadas, entretanto, as RESEX passaram por significativas transformações. A reforma agrária dos seringais foi transformada em Unidade de Conservação de Uso Sustentável, processo que implicou no surgimento de novos conflitos entre seus moradores e os órgãos de gestão do Estado. O objetivo dessa pesquisa é investigar na Reserva Extrativista Chico Mendes (RECM), no estado Acre, como a dinâmica atual do modo de vida e o conhecimento tradicional dos seringueiros, suas formas de apropriação comum do território e dos recursos naturais, garantem a reprodução camponesa, apesar dos conflitos que essas populações enfrentam diante das atuais políticas públicas implementadas neste território, focadas na valoração econômica de recursos naturais. A pesquisa apoia-se numa perspectiva teórico-metodológica que se inscreve no campo do materialismo histórico que possibilita entender a categoria modo de vida a partir da mediação entre a história social dos grupos estudados e as contradições criadas pelo desenvolvimento desigual do modo de produção capitalista.