O gótico rural de Cornélio Penna: tópicas góticas em A Menina Morta

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Machado, Admarcio Rodrigues
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8149/tde-17052024-162159/
Resumo: Esta leitura de A Menina Morta (1954), de Cornélio Penna, examina tópicas góticas atualizadas nesse romance. Para isso, recuperamos temas e lugares-comuns da tradição gótica, como o castelo assombrado, o tempo retroagido, o vampiro, o fantasma, o duplo e o estrangeiro, os quais, entendemos, são legíveis no último romance por ele publicado. Para isso, abordamos a origem histórica da palavra Gótico reconstruindo sua evolução ao longo do tempo, abrangendo desde o uso como sinônimo de barbárie até o sentido positivado de primitivo. Também destacamos o uso do termo Gótico em arquitetura. Além disso, exploramos diferentes obras e temas da literatura gótica, para discutir a estrutura de narrativas labirínticas que se referem a si mesmas em sua própria história, bem como o tema do peregrino, assim como o vampirismo em Drácula de Bram Stoker, dentre outros temas relevantes para a articulação pretendida. Sabendo também que a crítica literária tem debatido sobre a natureza e o alcance da relação da obra de Cornélio Penna e a tradição gótica, argumentamos que Penna emula elementos dessa tradição para compor a ficção em A Menina Morta como \"gótico rural brasileiro\". Nesse sentido, a tese central é que o último romance de Penna dialoga com a tradição gótica. Para defender nossa hipótese, estudamos também a dicotomia entre representação realista e introspectiva na ficção brasileira, que foi retomada pela historiografia literária na década de 1930 e ainda está presente na crítica contemporânea, bem como a imagem do Grotão, enquanto espaço estranho e ameaçador. Sabendo também da relação de Penna com o antiquarismo, analisamos também vários objetos da fazenda, incluindo um lampião, uma cômoda e um leque, evidenciando como eles representam a decadência da ordem patriarcal. Em seguida, investigamos alguns monstros existentes na fazenda, focando a atenção na figura do Comendador como um vampiro moderno, argumentando que esse personagem encarna muitas características clássicas de vampiros, sobretudo, a exploração de outros seres humanos para sua própria sobrevivência, sem deixar de expor como ele se desvia do estereótipo de vampiro em alguns aspectos, como na sua relação com a religião. Sabendo também da relação intrínseca entre vampiro e fantasmas, abordamos igualmente a presença destes na fazenda, refletindo sobre o significado mais profundo da sua presença no romance, a qual aponta para a escravidão como um espectro que ainda assombra a sociedade brasileira. Ao lado desses monstros, justapomos a presença do duplo como argumento central para a compreensão de Carlota na intriga. Finalmente, analisamos a presença do estrangeiro no romance, apostando em que a personagem Frau Luiza figura outra governanta, empírica, Ina von Binzer, Ulla, e que seu olhar estrangeiro expõe a realidade da escravidão no Brasil do fim do século XIX