Análise léxico-estilística de \"O amor dos homens avulsos\", de Victor Heringer

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Plato, Isadora Lemos Gomes de
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8142/tde-22102024-121929/
Resumo: O trabalho investiga a estilização de três temas do romance O amor dos homens avulsos, de Victor Heringer (2016) por meio de recursos léxico-semânticos empregados pelo autor. Para isso, parte das contribuições de Jakobson (2005[1960]; 1973; 1978) sobre a autonomia do código verbal nas obras literárias, o conceito de literariedade e as funções da linguagem, e da proposta de Riffaterre (1971; 1989) de aproximação estrutural do texto literário, que reorganiza e amplia os pressupostos teóricos de Jakobson (2005[1960]; 1973; 1978). A descrição da expressividade formal de recursos de estilo lexicais, morfofonológicos e morfossintáticos e a análise dos efeitos de sentido resultantes desses recursos buscou o sistema simbólico construído pelo autor na obra por meio da repetição de traços semânticos e estilísticos e da interrelação entre eles, com base nos fundamentos da Estilística Lexical e Morfológica (LAPA, 1975; CÂMARA JR., 1978; CARDOSO, 2013; 2018; 2019; MARTINS, 2012; RIFFATERRE, 1971; 1989; JAKOBSON, 2005[1960]; 1978 e VANOYE, 1991). Metodologicamente, o estudo se orientou por três etapas. Primeiro, foram selecionados trechos do romance que abordam três temas recorrentes no romance: a avulsão dos personagens centrais (Camilo e Cosme), a infância e a violência. Em seguida, foi realizada uma análise dos procedimentos estilísticos encontrados em cada trecho. Nessa etapa, examinou-se como a expressividade no texto foi obtida por meio de recursos léxico-semânticos, morfofonológicos e sintáticos, como categoria gramatical, composição e flexão das palavras, uso de sinônimos, antônimos, parônimos e linguagem figurada (metáfora, metonímia, hipérbole, eufemismo, ironia etc.). Por fim, foram identificados, em cada trecho e na comparação entre eles, movimentos estilísticos que caracterizem o romance como um todo e traços semânticos e estilísticos reiterados que funcionam como possíveis canais interpretativos para a obra. Na análise do primeiro eixo temático, observou-se que na descrição do narrador sobre si mesmo há grande uso de unidades lexicais depreciativas, vocabulário representativo do grotesco, construções hiperbólicas e campos lexicais centrados sobre as ideias de morte e fragilidade. Ao contrário, a descrição de Cosme revelou-se vinculada a campos lexicais que representam as ideias de vida, movimento e força. Na análise do segundo eixo temático, destacaram-se, como principais procedimentos estilísticos que representam uma visão de mundo infantil, a neologia, sintática e onomatopaica, e o uso de sufixos diminutivos. No terceiro eixo de análise, a violência é estilizada, sobretudo, pela mobilização de campos lexicais em oposição, que perfazem uma visão dicotômica entre o homem em estado puro, violento, e em estado castrado, obrigado a conviver em sociedade. Nesse último eixo, verificamos que o estilo resignado do narrador dá lugar à revolta num longo parágrafo que destoa estilisticamente de todo o restante da narrativa e inverte os sistemas simbólicos construídos até então na obra. Com isso, concluiu-se que o estilo da obra varia entre diferentes registros, como melancolia e ironia bem-humorada, resignação e revolta, linguagem adulta e linguagem infantil, elementos que se alinham à oscilação que funda o gesto de escrita do romance, isto é, o olhar em direção ao passado e ao futuro e os vaivéns da memória