Aspectos epidemiológicos e avaliação das medidas de controle da leishmaniose visceral americana no Estado de São Paulo, Brasil

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2004
Autor(a) principal: Neves, Vera Lúcia Fonseca de Camargo
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/6/6132/tde-06042021-101112/
Resumo: O controle da leishmaniose visceral americana (LVA) tem encerrado controvérsias quanto à efetividade das diferentes medidas empregadas, e sua manutenção apresenta custos elevados. Dada a essa problemática, esse estudo teve como objetivo avaliar as intervenções do Programa de Controle da LVA no Estado de São Paulo. Foram selecionadas três áreas no município de Araçatuba onde a LVA canina vinha ocorrendo: área Testemunha, onde se realizou somente a eliminação de cães soropositivos; área Tratada, onde foram realizadas a aplicação de cipermetrina nos imóveis e anexos, e a eliminação de cães soropositivos; área Calagem, onde foram realizados o manejo ambiental pela remoção de matéria orgânica e aplicação de calcário dolomítico no peridomicílio e terrenos baldios e a eliminação de cães soropositivos. As capturas mensais de flebotomíneos foram realizadas numa amostra de 123 residências, de 1999 a 2001. Para conhecer a preferência alimentar de L. longipalpis foi utilizado o teste de precipitação com antisoros de humano e de animais domésticos. Durante as capturas foram realizadas as medidas de temperatura e umidade relativa do ar. Quanto ao cão, uma coorte dinâmica foi acompanhada em cada área. A infecção canina foi detectada pela técnica de imunofluorescência indireta e calculadas as taxas de prevalência e incidência. A eliminação ocorreu quando os títulos foram iguais a 1/40. Para comparar as médias de L. longipalpis no intra e peridomicílio das áreas Tratadas e Calagem com a Testemunha foi utilizado o teste H de Kruskall-Wallis. A análise dos fatores associados com a presença do vetor foi feita pelo método de regressão logística múltipla. A probabilidade do cão de adquirir a infecção foi realizada pela técnica de regressão complementar loglog. Também, foi analisada a relação custo-efetividade das atividades do Programa. A análise da freqüência de L. longipalpis revelou maior densidade nos meses de janeiro a abril e de setembro a dezembro. A maior chance da presença do vetor no peridomicílio foi observada no horário das 20h00 às 21h00, temperaturas médias entre 20 a 29°C, e umidade relativa do ar inferior a 80%. O vetor apresentou hábito alimentar eclético, porém com elevado grau de cinofilia. Os tratamentos químicos dos imóveis e o manejo ambiental mostraram eficácia na redução do vetor no intradomicílio. Verificou-se que a chance x de presença do vetor foi mais elevada na área sem nenhuma intervenção contra o vetor (OR=6,13), enquanto a área Calagem mostrou metade dessa chance (OR=3,08) quando comparada à área com intervenção química. Em relação ao cão, observou-se que a infecção foi maior em cães sem raça definida do que entre os cães de raça. Entre os cães e raça, as maiores positividades ocorreram entre cães de tamanho grande, do tipo Dogue, onde a chance de infecção foi mais 2,5 vezes do que nos demais do grupo; os cães de pêlo liso tiveram 2,06 vezes mais chance de infecção do que os de pêlo crespo; cães com hábito de dormir no intradomicílio demonstraram menor participação na manutenção na doença. A comparação entre as prevalências inicial e final não mostrou diferença significativa nas três áreas estudadas, bem como, não houve diferença no comportamento da incidência acumulada canina nas três áreas. Considerando os períodos de maior densidade vetorial e maior prevalência da infecção canina, o período pré-patente para a detecção de títulos IFA no cão pode ser considerado de 4 a 5 meses. Com o controle vetorial houve a redução da densidade de L. longipalpis. Entretanto, não houve diferença significativa na incidência da LVA canina entre as áreas, levando a concluir que a redução da população do vetor não teve efeito sobre a doença canina, no entanto nenhum caso humano ocorreu nas três áreas, embora tenham ocorrido nas áreas vizinhas do município. Isto sugere que as medidas de controle foram eficientes e a eliminação de cães infectados reduziu a chance de infecção humana. Para a diminuição da incidência humana, a eliminação de cão foi a medida de melhor relação custo-efetividade. Em relação ao vetor, o manejo ambiental foi a medida mais custo-efetiva atingindo 80 a 100% de efetividade para o intradomicílio. No peridomicílio, as duas medidas de controle foram inefetivas para redução da população do vetor. Recomenda-se que o manejo ambiental seja empregado em todo o município como medida de prevenção em área urbana, e o controle químico passe a ser empregado em situações epidêmicas envolvendo a população humana.