Fundindo horizontes e refigurando existências: a vida como um tecido de histórias narradas

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Browne, Roberta
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8133/tde-06122019-165534/
Resumo: Como seria a realidade sem a ficção? Pergunta de cunho filosófico e respondida pela literatura. Dois personagens, duas épocas, duzentos e cinquenta anos os separam e a resposta deles é praticamente a mesma: insuportável. Para Dom Quixote e Ema Bovary, a vida sem a ficção não vale a pena ser vivida: ela é intragável, seria preferível à morte do que levar uma vida em sua ausência. Partindo desta premissa, e olhando agora para a filosofia, é com Paul Ricoeur que iremos seguir, já que ele nos possibilitou uma chave interpretativa por demais atrativa. Não apenas pela sua tese a respeito da existência de um mundo dentro do texto, que não é exatamente o contexto, que ultrapassa qualquer intenção que o autor tenha tido e que, ao entrar em contato com o mundo do leitor, através do processo da leitura, tem o leitor o seu mundo refigurado. Mas também pelo seu modo de pensar dialógico. Sempre olhando para outros autores, sempre trazendo distintas visões para o diálogo. Por isso não é de se estranhar que, para adentrarmos no mundo do texto, uma longa via será seguida, caminhando pela história alguns diálogos específicos serão travados: com a tradição hermenêutica desenhadas por Schleiermacher e Dilthey, as hermenêuticas ontológicas de Heidegger e Gadamer, e as estéticas da recepção pensadas por Robert Jauss e Wolfgang Iser. Serão destes diálogos que Paul Ricoeur ele mesmo vai começar a surgir. Com a tríplice mimesis, as variações imaginativas possibilitadas pela ficção e os conceitos de mundo do texto e mundo do leitor, caminharemos então para uma noção prima: a experiência viva advinda dessas relações. Para o autor, é no processo de refiguração que a ipseidade se faz: somos, pois, um grande tecido de histórias narradas. Fundindo horizontes e refigurando existências, pretendemos acompanhar uma discussão há séculos presente, com uma única certeza, talvez, que sem os nossos Dom Quixotes, as nossas Emas Bovarys, as nossas Annas Kareninas, os nossos Édipos... a realidade perderia o seu modo de ser estético, perderia a sua cor, perderia o seu tom; e uma realidade sem cor, fria, parada não é uma realidade que valha a pena ser discutida, pensada, questionada. E talvez, quem sabe, muito menos vivida.