E ficamos aí, nessa vida de cuida e descuida: narrativas da vida cotidiana das mulheres nas políticas de assistência social 

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Taffarello, Ingrid Matzembacher Stocker
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-14062021-145930/
Resumo: Esta pesquisa investiga como as questões de gênero atravessam a vida cotidiana das mulheres em situação de vulnerabilidade. Seriam elas consideradas em sua autonomia de gênero? A partir desse questionamento, pretendeu-se analisar, respaldados pelos autores da Psicologia Social Crítica e por uma Epistemologia Feminista, se as demandas das mulheres são consideradas pelos serviços da assistência social. Compreende-se, na verdade, que as violências cotidianas, tanto de gênero quanto de raça, se reproduzem nos diferentes espaços que circunscrevem a vida. Tal fenômeno contribui para a constituição de subjetividades e identidades aprisionadas a concepções dominantes. Pretendeu-se criar um cruzamento entre a percepção das mulheres, suas principais demandas relativas às questões de gênero, o olhar das/dos profissionais e suas práticas no âmbito da Assistência Social. Fundamentada em uma leitura crítica acerca dos documentos normativos das Políticas de Assistência Social, a pesquisa se desdobra em dois momentos. O primeiro momento, composto por uma experiência etnográfica, busca compreender a intersubjetividade das mulheres, com foco nas relações de gênero, memória e território. Tal aproximação contribui para o desenvolvimento de um trabalho de campo que se utiliza de diferentes vozes, da valorização das histórias de vida de mulheres na construção do conhecimento. Para tanto, utilizou-se um diário de campo e foram realizadas entrevistas semiestruturadas com cinco mulheres, de diferentes idades, moradoras de um bairro vulnerável em um Município do interior de São Paulo. No segundo momento, foram realizadas oficinas com os trabalhadores da assistência social. As oficinas contaram com quatro encontros e abordaram as noções das/dos participantes a respeito das concepções de gênero. Esta etapa contribuiu para uma desnaturalização dos papéis sociais e sexuais comumente utilizados nos diferentes espaços, além de propiciar um levantamento das principais demandas sobre as relações de gênero presentes no cotidiano de trabalho da assistência social. Após a sistematização deste levantamento e de sua devolutiva aos profissionais, ampliou-se a análise dos dados. Assim, analisamos que, apesar do sistemático desmonte das políticas de assistência social no país, elas imprimem processos de subjetivação, presentes cotidianamente nas narrativas das mulheres moradoras da favela. Para além dos processos normativos das políticas públicas, observamos que as mulheres compartilham um conjunto variado de atividades de reprodução social as quais promovem interações e mantêm laços sociais. Dessa forma, as relações de ajuda mútua e de solidariedade entre as moradoras configuram estratégias em lidar com a precariedade da vida na favela. Nesse sentido, representadas como família, as mulheres são convocadas a atender às pressões do Estado, do mercado e do tráfico por meio de relações de cuidados e de descuidados, inerentes ao capitalismo. Tal fenômeno reitera os processos de opressão das mulheres, inscritos nas relações de exploração e expropriação. Há um ocultamento da mulher nos dados oficiais, o qual legitima as assimetrias de poder, hierarquicamente ancoradas nas questões de gênero, que se reproduzem no interior das famílias e ampliam-se a outros contextos. Ressaltamos ainda que os homens estão presentes nas políticas de assistência, mas predominantemente nas Políticas Sociais Especiais, ou seja, quando há violação de direitos