Entre as linhas das cartas e entrelinhas da vida : leitura e escrita com mulheres na prisão

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Santos, Isabella Almeida dos
Orientador(a): Godinho, Ana Cláudia Ferreira
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Palavras-chave em Espanhol:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/273226
Resumo: Esta pesquisa, de natureza qualitativa e caráter exploratório, adotou os delineamentos de um estudo de caso para elaborar uma unidade didática de leitura e escrita com mulheres privadas de liberdade. Além disso, a pesquisa teve como objetivos específicos: a) identificar as atividades educativas realizadas com mulheres no Presídio Estadual de Alegrete; b) analisar a experiência de escrita de textos epistolares como prática de letramento com um grupo de mulheres da unidade prisional; c) analisar as reflexões produzidas oralmente por estas mulheres na discussão sobre os textos lidos nas oficinas; e d) compreender como as mulheres fazem uso da escrita de cartas para narrar suas experiências de vida e suas leituras de mundo. As cartas, escolhidas como texto epistolar a ser trabalhado na escrita, é um gênero já conhecido entre a população prisional por ser o recurso utilizado para comunicação e manutenção de laços com o mundo externo. A escrita, nesse contexto, representa uma possibilidade para a detenta se afastar da realidade material do encarceramento, relembrar outros momentos da vida e pensar em novos caminhos para o futuro fora da prisão. A escrita permite que o indivíduo compartilhe suas experiências, pensamentos e emoções, lembrando a si mesmo e aos outros de sua existência. Foram realizadas seis oficinas de leitura de textos literários e escrita de cartas envolvendo oito detentas no Presídio Estadual de Alegrete. A realização de oficinas de leitura de textos e produção de cartas como atividades de letramento é uma ação importante para valorizar as práticas discursivas desempenhadas por mulheres encarceradas que, em sua grande maioria, sequer terminaram a escolarização básica e estão inseridas em um cenário que as invisibiliza, disciplina e violenta. Este estudo observou que as oficinas se constituem em práticas de letramento que possibilitam às mulheres dialogar e escrever sobre si mesmas, suas experiências de vida dentro e fora do cárcere, como uma experiência educativa que valoriza os saberes e a linguagem de uma parcela da população que historicamente foi excluída dos processos formais de escolarização. Nesse cenário, as cartas desempenharam a função de reafirmar a identidade das mulheres, permitindo-lhes expressar-se livremente e compartilhar suas trajetórias de vida. No processo de análise reflexiva de suas narrativas, elas reconheceram-se na escrita como autoras em construção. Diversos discursos permearam as escritas em cada temática abordada, destacando-se três temas recorrentes: a maternidade, a prisão como aprendizado e as condições precárias de existência antes do encarceramento. Destaca-se que as práticas de letramento na prisão possibilitam que as mulheres assumam outros papéis sociais - como escritoras, narradoras e sujeitos de um processo educativo, afastando a estigmatização de “criminosas”.