Aspectos literários da loucura nas narrativas de Guy de Maupassant

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Silva, Elaine Cristina dos Santos
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/180873
Resumo: Com o intuito de evidenciar como a loucura é formalmente construída nas narrativas de Guy de Maupassant (1850−1893), analisamos vinte e três narrativas breves do autor francês — a saber, “Fou ?” (1882); “La folle” (1882); “Madame Baptiste” (1882); “Un parricide” (1882); “Denis” (1883); “La main d’écorché” (1975); “La reine Hortense” (1883); “L’enfant” (1883); “Lui ?” (1883); “Mademoiselle Cocotte” (1883); “La chevelure” (1884); “Un fou ?” (1884); “La petite Roque” (1885); “Lettre d’un fou” (1885); “Un fou” (1885); “L’auberge” (1886); “Un cas de divorce” (1886); “Le Horla” (primeira versão, 1886); “Le Horla” (segunda versão, 1887); “L’homme de Mars” (1887); “Madame Hermet” (1887); “Qui sait ?” (1890) e “Le docteur Héraclius Gloss” (1921) — com claras referências à loucura de alguma de suas personagens. Entendemos a loucura, conforme Michel Foucault, como um fenômeno socialmente percebido, o que pode ser demonstrado pelas diferentes maneiras como o louco foi tratado em cada época, mantendo constante apenas sua posição marginalizada na sociedade. Como um discurso dissonante em relação ao discurso racional, a palavra do louco desafia a ordem vigente, expondo as falhas e contradições na maneira como compreendemos o mundo, tornando-se um discurso incômodo e indesejado. Isso explica por que a palavra do louco tem sido sistematicamente silenciada (seja investindo essa palavra de alguma sabedoria oculta ou considerando-a apenas como artigo de curiosidade: a palavra do louco nunca é considerada como válida por si mesma). No século XIX, época em que os textos do nosso corpus foram escritos, assistimos à medicalização do espaço do internamento, além de um esforço para a moralização desse mesmo espaço, sendo considerados curados aqueles indivíduos que conseguissem se encaixar em algum tipo social cristalizado (o que significava abrir mão dos próprios valores e da subjetividade em favor da ordem estabelecida). Na contramão de práticas como essa, vemos a literatura resgatar esteticamente a voz do louco com autores como Maupassant, que dedicou parte considerável de sua obra às personagens loucas, aproveitando o lugar privilegiado que essas personagens ocupam enquanto questionadoras do sistema no qual se inserem para refletir sobre os males do corpo e da mente humanos.