Floresta, animais e insetos: conhecimentos tradicionais do povo Kaiowá no Tekoha Panambizinho, Dourados, Mato Grosso do Sul

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Pedro, Marildo da Silva lattes
Orientador(a): Gisloti, Laura Jane lattes
Banca de defesa: Yamazaki, Regiani Magalhães de Oliveira lattes, Colman, Rosa Sebastiana lattes, Torres, Viviana de Oliveira lattes
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal da Grande Dourados
Programa de Pós-Graduação: Programa de pós-graduação em Entomologia e Conservação da Biodiversidade
Departamento: Faculdade de Ciências Biológicas e Ambientais
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://repositorio.ufgd.edu.br/jspui/handle/prefix/5173
Resumo: Os territórios originários do povo Kaiowá estão situados no que atualmente é a porção sul do estado de Mato Grosso do Sul na região centro-oeste do Brasil. Os tekoha (lugar onde se é) e o tekoha guasu - grande território tradicional - se estendem das porções sul e oeste, com a dimensão quase integralmente definida pelos afluentes da bacia do rio Paraná, com exceção do rio Apa. A experiência histórica e geográfica desse povo conflui com ecossistemas predominantemente da Mata Atlântica, relação que se revela na autodenominação enquanto povo da mata – Ka’aguy ygua ou Ka’aguy rehegua. A dimensão da floresta para as relações ecológicas, socioterritoriais e cosmológicas é um espaço e uma categoria que possui múltiplas diferenciações internas com muitos agentes políticos humanos e não-humanos, sendo também composto por diversos patamares relacionados às divindades e suas intervenções nas relações de equilíbrio do ecossistema. Nesse sentido, é fundamental para o seu manejo, a harmonia entre as práticas culturais e saberes tradicionais com os jara – espíritos protetores das espécies e do lugar. Nessa perspectiva, o objetivo desta dissertação foi analisar os conhecimentos tradicionais e a relação que o povo Kaiowá estabelece com os animais (mymba) e com os insetos (vixoi), tendo como pano de fundo o fato de que este povo, que se autodenomina povo da mata, cuja cosmopercepção está intrinsecamente relacionada aos sistemas socioecológicos da floresta, tem presenciado profundos impactos socioambientais em suas terras tradicionais para a expansão das fronteiras agroextrativistas. O trabalho de campo foi realizado no tekoha Panambizinho onde vivo, no município de Dourados, entre os anos 2019 a 2021. A metodologia utilizada se pautou na participação observante e os dados foram registrados por meio da técnica de entrevistas (diálogos) com a comunidade e, principalmente, com os mestres e mestras tradicionais do meu povo. Neste trabalho, evidenciei a relação intima, profunda e respeitosa entre meu povo, a mata e os seres que vivem, como os animais e os insetos. Assim, pude compreender que são inúmeros os aspectos bio/geográficos que perpassam os conhecimentos tradicionais sobre os animais em geral e sobre os insetos territorial, de forma que a abordagem a partir da compreensão cosmológica do mundo Kaiowá foi de vital importância e necessidade para aprofundarmos nosso entendimento sobre a dimensão desses conhecimentos tão importantes para a boa relação com a Mãe Terra e com todos os seres que nela vivem. Nesse contexto, acredito que a busca por entender os processos colonizatórios que feriram gravemente a sociobiodiversidade de povos e territórios é de extrema relevância para construir estratégias efetivas e específicas de restauração e conservação de sistemas socioecológicos. Por outro lado, compreendi que as ações construídas em torno da restauração ecológica devem ter como princípios as relações cosmológicas, socioterritoriais e ecológicas dos povos, de forma que a luta pela retomada de seus territórios tradicionais é o ponto chave para que as matas e florestas possam ser protegidas e restauradas.