A culpa é do Diabo: as políticas de existência na encruzilhada entre neopentecostalismo, varejo de drogas ilícitas e terreiros em favelas do Rio de Janeiro
Ano de defesa: | 2021 |
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Autor(a) principal: | |
Orientador(a): | |
Banca de defesa: | |
Tipo de documento: | Tese |
Tipo de acesso: | Acesso aberto |
Idioma: | por |
Instituição de defesa: |
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Ciências Sociais::Instituto de Estudos Sociais e Políticos Brasil UERJ Programa de Pós-Graduação em Sociologia |
Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: | |
Link de acesso: | http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/18593 |
Resumo: | Esta tese, de cunho etnográfico, investiga a complexidade das relações estabelecidas, em termos de disputas político-religiosas, entre neopentecostalismo, varejo de drogas ilícitas e religiosidades afro-brasileiras em algumas favelas do Rio de Janeiro, comandadas pela facção Terceiro Comando Puro (TCP). O objetivo geral do trabalho é perceber como as/os sujeitas/os políticas/os em campo têm negociado suas existências dentro de uma encruzilhada de práticas e de sentidos, motivada por conflitos, disputas, aproximações, divergências, táticas, violências, confluências e ressignificações. Por meio das histórias ouvidas, sentidas e vividas no cotidiano de diferentes grupos e pessoas, que operam, muitas vezes, na perspectiva de estarem em meio à guerra e à crise, busco tecer narrativas e interpretações sobre os múltiplos significados e propostas em disputa. Embora a abordagem principal seja etnográfica, conjugo uma análise que combina os níveis macro, meso e micro, buscando articular camadas e temporalidades diversas para entender os conflitos contemporâneos. A tese divide-se em três partes. Em primeiro lugar, realizo uma análise histórica da construção simbólico-social da figura do Diabo, elemento central para a compreensão desse fenômeno. Concentro-me, principalmente, na demonização e na criminalização das religiosidades de matriz africana, fruto do racismo que perpassa toda a história do Brasil, com oscilações, apenas, no que diz respeito às/aos dinamizadoras/es dos conflitos. Embora, hoje, os grupos neopentecostais estejam sendo identificados como os grandes algozes das comunidades de terreiro, demonstro que esse é um processo muito mais complexo do que as manchetes da mídia corporativa apresentam. Na segunda parte, o foco é trazer uma perspectiva multifatorial da aproximação entre o varejo de drogas ilícitas e o neopentecostalismo e a consequente violência aos terreiros e às/aos suas/seus adeptas/os, que seguem elaborando respostas. Na disputa de territórios e de repertórios, operacionalizados em episódios conturbados e brutais, os significados de morte, de guerra, de pecado, de luta e de exorcismo são constantemente acionados por grupos diversos, incluindo o próprio Estado. Ainda que seja possível traçar aspectos comuns a todo esse emaranhado de acontecimentos, eles não são uniformes, ou seja, cada favela, cada grupo, cada localidade traz suas peculiaridades; é disso que trata o terceiro e último capítulo. Assim, códigos de conduta distintos marcam as relações que se desenham de forma irregular em cada espaço, em cada situação, mas que se conectam a projetos maiores. O que acontece, hoje, em relação às disputas e às violências mobilizadas dentro de uma gramática religiosa, nas favelas e nas periferias do Rio de Janeiro, só é possível porque existem contextos e articulações anteriores e superiores (em nível de proporções e de investimentos de capital simbólico, político e econômico). Entretanto, muitas vezes, o que ganha notoriedade nos discursos públicos oficiais é só a ponta de uma longa corda, ocultada por diversos interesses. Dessa forma, esta tese interdisciplinar contribui no campo das religiosidades e em outros correlatos e na luta política ampla, trazendo a complexidade como motor para ajudar a traçar as estratégias na transformação das práticas e dos discursos identificados como opressores. |