O medo vai à escola: história do medo étnico-religioso e ensino oficial da história e cultura afro-brasileiras

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Costa, Geiziane Angélica de Souza
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Educação e Humanidades::Faculdade de Formação de Professores
BR
UERJ
Programa de Pós-Graduação em Educação - Processos Formativos e Desigualdades Sociais
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/10024
Resumo: O medo foi tematizado historicamente pela obra sem precedentes do historiador francês Jean Delumeau (2009). Do autor aprendemos que não apenas os indivíduos, mas também as coletividades estão engajadas num diálogo permanente com o medo. Os medos que sentem os homens e lhes perturbam o espírito, na sua dimensão mais íntima, são, por certo, inúmeros, inconfessáveis, insondáveis. Outros, no entanto, tornam-se públicos, tomam coletividades, geram ações sociais violentas ou atitudes preventivas de grupos ou classes contra outras. O trabalho de Delumeau, ainda que trate de circunstâncias e de tempos históricos distintos, é inspiração e referência para esta pesquisa. O objetivo é tematizar uma paixão particular e recorrente no âmbito da cultura brasileira: a história do medo étnico-religioso ante as religiões tradicionais que se configuram em bases culturais afro-brasileiras. Como todo o medo, o medo étnico-religioso, provocado pela incompreensão de características da cultura africana e de suas religiões, tem uma história. A pretensão é a de discutir as causas histórico-culturais que elucidam a associação entre as religiões afro-brasileiras e as práticas consideradas demoníacas. Nesta associação, encontra-se a raiz do preconceito que, secularmente, impera em nossa sociedade desde sua formação. Fundamentalmente, o medo étnico-religioso tem a sua origem não apenas na ignorância e nas ideias pré-concebidas, mas também em imemoriais interpretações bíblico-teológicas e em recentes teorias pseudocientíficas que se tornaram correntes nas ciências sociais. O medo de que falamos toma oficialmente o espaço escolar e adentra as salas de aula, desde quando foi sancionada a Lei 10.639, implementada em 2003, que estabelece, de forma obrigatória, o ensino da História e da Cultura Afro-Brasileiras, amparada no art. 26ª da LDB. O preconceito histórico e socialmente construído, que nega e destitui de valor as religiões de matriz africana no Brasil, é um importante fator que dificulta o tratamento adequado das matérias e temáticas preconizadas pela Lei no currículo praticado pelos professores, em especial, por aqueles responsáveis pela disciplina de Religião. Orientações religiosas mais conservadoras têm tratado a cultura afro-brasileira de maneira limitada, estereotipada e restrita, sob uma visão maniqueísta em que apenas cabe a atitude de demonização. Estudantes, praticantes e adeptos das religiões afro-brasileiras, como é comum acontecer na sociedade, também sofrem discriminação e preconceito dentro das escolas. Escondem sua opção religiosa pelo medo da rejeição, e por não terem garantida materialmente a liberdade religiosa como direito fundamental do ser humano e parte inalienável da formação de sua identidade para o alcance pleno de sua cidadania. O conhecimento é o antídoto contra o medo, a ignorância e o preconceito, de modo que a escola tem uma importante e inescapável tarefa educativa a cumprir.