Herdeiros da COVID-19: lutos de familiares durante a pandemia

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Sola, Pamela Perina Braz
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59141/tde-01022024-121732/
Resumo: A pandemia deflagrada pelo novo coronavírus provocou um drástico aumento de mortes e, consequentemente, de pessoas enlutadas durante o período de crise. O imperativo de distanciamento físico, a fim de evitar o contágio, impactou as vivências de luto, uma vez que impossibilitou visitas hospitalares, provocou alterações nos velórios e enterros, e comprometeu a obtenção de apoio social. Este estudo tem como objetivo geral compreender os impactos da pandemia na experiência de luto de pessoas que perderam familiares em decorrência da COVID-19 no cenário brasileiro. Para alcançar tal objetivo, foram elaborados dois estudos, o primeiro uma metassíntese e o segundo uma investigação empírica. O Artigo 1, que consiste em uma metassíntese da literatura, objetivou resumir e reinterpretar os resultados de estudos qualitativos sobre a experiência de perder membros da família durante a pandemia por meio de uma síntese temática. As buscas foram realizadas nas bases de dados Web of Science, Scopus, PubMed/MEDLINE, CINAHL, PsycINFO e LILACS. Entre os 602 artigos identificados, 14 foram incluídos. A qualidade da evidência foi avaliada utilizando a ferramenta Critical Appraisal Skills Programme (CASP). Foram elaborados dois temas descritivos relacionados ao objetivo, além de um tema analítico, a saber: \"Luto pandêmico: solitário e inconclusivo\". Esses temas se mostraram inter-relacionados e indicam que as experiências de perda no contexto pandêmico foram negativamente impactadas pelos imperativos do distanciamento físico, restrição de visitas hospitalares, comunicação mediada por tecnologia e proibição ou restrição de funerais. Essas mudanças resultaram em experiências marcadas por sentimentos de solidão e impotência, que devem ser considerados ao planejar estratégias de intervenção que favoreçam a comunicação entre os membros da família com o ente querido afetado e com a equipe de saúde, permitindo acolhimento e criando alternativas para rituais de despedida. O Artigo 2 apresenta um estudo qualitativo, transversal, descritivo, com uma amostra de 10 familiares enlutados (oito mulheres, com idades entre 21 e 52 anos, tempo de perda de três a 11 meses, quatro com múltiplas perdas). A coleta de dados ocorreu em julho de 2021, mediante entrevistas semiestruturadas individuais, realizadas por vídeo chamada, com gravação de áudio e vídeo e duração média de uma hora. As entrevistas, transcritas na íntegra, foram submetidas à Análise Reflexiva Temática e analisadas segundo a teoria de Parkes, buscando identificar significados atribuídos ao processo de luto. Os resultados foram organizados em duas categorias, que circunscrevem alterações na experiência do espaço e na subjetivação do tempo. Constatou-se que a ruptura do mundo presumido em tempos pandêmicos, a impossibilidade de despedida do ente querido e os baixos níveis de apoio social dificultaram a experiência do luto durante a crise sanitária. Considera-se, ainda, que o luto continua a ser vivido muito tempo após a morte, e que o tempo continua sendo, mesmo após o período mais crítico da pandemia no Brasil, um fator importante para o planejamento de intervenções a fim de oferecer suporte à população enlutada. Tais ponderações demarcam pontos de urgência para que se possam buscar direcionamentos futuros para organizar os cuidados psicológicos após o aprendizado obtido após os três trágicos anos da pandemia.