Efeito da canulação intratecal crônica sobre a resposta nociceptiva em ratos

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 1996
Autor(a) principal: Almeida, Fernanda Regina de Castro
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/17/17133/tde-19122024-134150/
Resumo: Com base nas diversas evidências experimentais utilizando a técnica de canulação intratecal crônica em ratos e, tendo em vista que este constitui um procedimento invasivo que faz uso de um corpo estranho ao organismo animal, o presente estudo teve por objetivo principal, investigar se a presença desse cateter induziria alguma alteração na resposta nociceptiva induzida por estímulo mecânico (Teste de compressão da pata modificado), térmico (Aplicação de infra-vermelho na pata) e químico (Teste da formalina) em animais normais, falso-operados e canulados. A hiperalgesia mecânica induzida por carragenina (2,5-100µg i.pl.) ou PGE2 (2-100ng i.pl.) foi significativamente maior em animais canulados que em normais ou sham, atingindo um máximo já na 1a. hora pós-estímulo, o que sugere que a presença da cânula esteja desencadeando algum fenômeno ao nível espinhal que, de certa forma, potencia a resposta dos animais a baixas doses de um estímulo inflamatório ou puramente hiperalgésico. A resposta nociceptiva induzida por formalina (0,3-5%) mostrou-se mais intensa em animais canulados somente com as concentrações de 0,3 e 1% na primeira fase (0-10min), não demonstrando alterações nas demais fases (2A= 10-40min; 2B= 40-60min), enquanto que na concentração de 5% não se verificou alteração significativa em nenhuma das fases estudadas, provavelmente porque o efeito já seria supra-limiar. Embora fosse esperado um efeito sobre a segunda fase de resposta nas menores concentrações, visto que envolve uma inflamação periférica, é provável que, frente à sensibilização presente nesses animais, a intensificação da resposta já fosse detectada na primeira fase, não sendo percebida na fase subsequente. A hiperalgesia térmica induzida por carragenina (31-125µg i.pl.) na técnica de Hargreaves foi significante em todos os níveis de dose em animais canulados, com apenas 1h pós-estímulo, o que só ocorreu com a maior dose em animais normais. Na 3a. hora pós-estímulo, a resposta de ambos os animais alcançou platô de resposta, começando a retornar na 5a. hora. Esse resultado sugere que também frente a um estímulo térmico, o fenômeno de sensibilização pode ser detectado, com resposta máxima já na 1a. hora de avaliação. Os animais canulados em estudo apresentaram responsividade e viabilidade de seus cateteres semelhante aos dados descritos na literatura, através da avaliação de suas respostas frente à lndometacina (10µg i.t.p.c) no teste da formalina. O fenômeno de sensibilização em animais canulados mostrou-se sensível à lndometacina sistêmica (1,25-5mg/kg i.p.) e intratecal direta (25-100µg i.t.) no teste de hiperalgesia mecânica induzida por PGE2 (10ng i.pl.), indicando que, provavelmente as Pgs participam desse fenômeno, visto que em outras situações experimentais, a lndometacina não é capaz de bloquear a resposta hiperalgésica induzida diretamente por Pgs. A resposta hiperalgésica a um estímulo mecânico induzida por carragenina (50 e 100µg i.pl.- normais; 10µg i.pl.- canulados), foi diferencialmente inibida por lndometacina intratecal (50µg), visto que mostrou-se efetiva em animais normais, apenas frente à menor dose de Cg, enquanto que, em animais canulados, a resposta da Cg (10µg), foi significativamente inibida pela mesma dose de lndometacina. Esses resultados sugerem que a lndometacina intratecal é capaz de bloquear somente eventos resultantes de menores doses de um estímulo inflamatório, ou ainda, frente a uma resposta mais intensa de Cg, seriam necessárias doses elevadas do antiinflamatório em questão. A segunda fase de resposta nociceptiva induzida por formalina (5%) foi inibida por lndometacina (10 e 30µg i.t.) apenas em animais canulados, enquanto que os animais normais não se mostraram responsivos a esses níveis de dose. Por outro lado, a morfina intratecal (0,25-2µg - normais; 1-8µg - canulados) mostrou-se menos potente em animais canulados que em normais. Esses dados indicam que o fenômeno desencadeado pela presença do cateter intratecal deve levar à produção de Pgs, o que é inibido pela lndometacina a esse nível, enquanto que leva também a uma certa injúria nervosa, o que ativa mecanismos espinhais, diminuindo a responsividade à morfina. Os presentes resultados foram corroborados com a análise histopatológica de cortes das medulas espinhais de vários animais utilizados, mostrando que os canulados apresentam uma maior frequência de infiltrado inflamatório predominantemente mononuclear, em comparação aos outros grupos. Em conclusão, o presente trabalho contribui para uma análise crítica dos resultados até então obtidos com o emprego da técnica de canulação intratecal crônica, chamando a atenção para outros eventos que podem estar participando dos efeitos evidenciados.