Resumo: |
Introdução: Recentemente, estudos vêm sugerindo que a exposição ao ruído pode comprometer outras porções da via auditiva além das células ciliadas. Estudos com cobaias encontraram alterações nas sinapses entre as células ciliadas e o nervo auditivo na presença de limiares auditivos normais e, por este motivo recebeu o nome de perda auditiva oculta (em inglês Hidden Hearing Loss - HHL). A confirmação da HHL em humanos pode ter implicações importantes, mas para isso, são necessários protocolos com a inclusão de procedimentos que permitam identificá-la em indivíduos normo-ouvintes expostos a ruído. Objetivo: Investigar os efeitos da exposição ao ruído na via auditiva periférica e central de adultos normo-ouvintes expostos ao ruído ocupacional. Métodos: Estudo composto por 60 indivíduos normo-ouvintes, do sexo masculino, divididos em Grupo Estudo (GE: 30 indivíduos expostos ao ruído ocupacional) e Controle (GC: 30 indivíduos não expostos ao ruído ocupacional). Todos os participantes realizaram, além da avaliação audiológica convencional, audiometria de altas frequências (AAF), Emissões otoacústicas transientes (EOAT), pesquisa do efeito inibitório da via auditiva eferente (EIVE), Gaps-in-noise (GIN), Fala no Ruído (FR), Limiar de Reconhecimento de Sentenças no Ruído (LRSR), e Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico (PEATE), sem e com ruído contralateral (60 e 70 dBNA). Foram realizadas análises descritivas e inferenciais, considerando significantes, valores de p0,05. Resultados: Não foram observadas diferenças significantes entre os grupos para a AAF. Na análise das amplitudes totais das EOAT, foram observadas médias significantemente menores para o GE, em ambas as orelhas (OD: p=0,048; OE: p=0,045), assim como apresentou maior número de participantes com ausência de respostas, com diferença significante para a OD (p=0,019). Para o EIVE, o GE apresentou menor efeito de inibição (p=0,009), bem como este esteve presente em menos orelhas (p=0,015). No GIN, o GE apresentou menor número de intervalos detectados (p=0,042), com média de limiar de detecção de gap maior. Nos testes LRSR e FR, o GE apresentou desempenho inferior ao GC, mas sem diferenças significantes. No PEATE, o GE apresentou valores médios de latência maiores para a onda V e Interpicos III-V e I-V da OE (p=0,015; p=0,05; p=0,037; respectivamente). Em relação às amplitudes e razão de amplitude das ondas V/I, não foram observadas diferenças entre os grupos. No PEATE com ruído contralateral a 60 dBNA, o GE apresentou média de latências maiores, com diferença para o interpico III-V da OE (p=0,006), mas sem diferenças nas amplitudes e razão das amplitudes V/I. Na realização do PEATE com ruído contralateral a 70 dBNA, foram observados valores médios de latências maiores para o GE, com diferença significante para a Onda V (p=0,042). A razão de amplitude das ondas V/I mostrou diferença entre os grupos (p=0,044). Conclusão: O GE apresentou desempenho pior na maioria das avaliações audiológicas realizadas, sendo mais evidente nas EOAT, EIVE e PEATE. É importante que mais estudos sobre o assunto sejam desenvolvidos para que as lacunas ainda existentes nesta área sejam resolvidas, podendo contribuir para a elaboração de um protocolo específico e sensível para a sinaptopatia induzida por ruído |
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