Querer, obedecer e empreender: o governo de si e dos outros nos discursos pedagógicos (final do século XVIII e início do século XIX)

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2014
Autor(a) principal: Calixto, Cláudia Ribeiro
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-05052014-103817/
Resumo: A investigação que embasa a presente tese tem como objetivo analisar a racionalidade pedagógica que sustenta a produção de subjetividades empreendedoras; e como horizonte teórico, algumas noções presentes no pensamento de Michel Foucault, especialmente em seus últimos cursos. A partir das proposições sobre uma pedagogia dita empreendedora, buscou-se compor um quadro das noções ético-políticos aí vigentes, as quais gravitam em torno de noções de felicidade, sucesso, destino, eficiência e produtividade, tomando o indivíduo como capital de si mesmo e sua própria vida como alvo de investimento ininterrupto. Entendendo o empreendedorismo menos como uma plataforma discursiva subserviente às forças ideológicas em voga e mais como uma espécie de poeira do presente, visou-se, por meio de um recuo arqueogenealógico, investigar a modulação do poder pastoral e da governamentalidade neoliberal operada na e pela literatura pedagógica do final do século XVIII e início do XIX. Na qualidade de fontes empíricas, foram selecionados alguns textos de Johann Pestalozzi, Friedrich Froebel, Johann Herbart e, em especial, Os anos de aprendizado de Wilhelm Meister, obra de Johann Wolfgang von Goethe. Tal escolha deveu-se, sobretudo, ao fato de tais textos serem constantemente referidos como fundadores da educação moderna pela historiografia educacional. No que se refere ao âmbito teórico-metodológico, além de Michel Foucault, a pesquisa teve como intercessores privilegiados Gilles Deleuze, Paul Veyne, Nikolas Rose e Giorgio Agamben, entre outros pensadores alinhados à perspectiva pós-estruturalista. A partir do enfrentamento analítico com as fontes eleitas, pôde-se observar um deslocamento do governamento teístico para uma noção de salvação laica ancorada na ideia do homem educado como operador de seu destino. Despontaria aí um sujeito que se imagina construtor de sua própria história e, portanto, capaz de gerir sua vida, por meio de determinadas práticas sobre si mesmo, tais como: voltar o olhar para si, buscando sua motivação e sua verdade supostamente interiores; descobrir e desenvolver seus talentos; aprender a aprender; retirar das experiências com o mundo lições para uma vida bem-sucedida; identificar e aprimorar suas habilidades e aptidões; cuidar da própria saúde, mantendo-se saudável e produtivo; manter-se atualizado etc. Daí o pietismo configurar um capítulo destacado em tal projeto, com vistas à autonomização do homem e, por conseguinte, sua realização na vida mundana. No diagrama que vem produzindo esse éthos para o homem contemporâneo, planteiam-se modos de veridicção e de subjetivação em que querer, obedecer e empreender constituem um nexo indissociável na forja do governo de si e dos outros.