O sistema agrícola tradicional e a conservação da biodiversidade: o estudo de caso da comunidade quilombola Cedro, Barra do Turvo-SP

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Takeichi, Clarissa Lie Endo
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/91/91131/tde-11112021-153555/
Resumo: O sistema agrícola desenvolvido pelas comunidades tradicionais vem transformando as florestas tropicais há milênios. O objetivo do presente trabalho foi avaliar as práticas agrícolas e como estas conservam a biodiversidade, a estrutura florestal e a capacidade de estoque de carbono e biomassa na Comunidade Quilombola do Bairro Cedro, em Barra do Turvo-SP. Foram realizadas entrevistas com roteiros semi-estruturados, levantamentos fitossociológico e estimativas de estoque de carbono e da biomassa aérea das cronossequências de coivara (até 1 ano, 10 e 50 anos), agrofloresta (até 1 ano, 2-5 e 25 anos) e remanescente florestal (25, 40 e 60 anos). Três parcelas de 100 m2 para cada área com idade de intervenção nos três diferentes sistemas de usos do solo foram amostradas, sendo mensurados os exemplares herbáceos e arbóreos com diâmetro à altura do peito (1,3m) igual ou superior à cinco centímetros. As características coletivas apontam que as relações familiares e os saberes estruturam-se no sistema agrícola. O desenho das roças de coivara, o plantio com o corte e a queima da floresta, em áreas geralmente afastadas das residências são adotadas pela maioria das famílias da comunidade. Substituindo o uso do fogo pela trituração da cobertura vegetal e depósito deste material sobre o solo, a agrofloresta realizada pelas famílias é uma prática agrícola que surgiu há três décadas na comunidade. Ambas as práticas empregadas na comunidade não utilizam agrotóxicos ou fertilizantes químicos. Todos os membros das famílias possuem sua roça, independente de gênero ou idade, trabalhando de forma autônoma. Espécies herbáceas exóticas e arbóreas nativas, como guanxuma (Sida sp.), chimango (Leonurus sibiricus), cedro (Cedrela fissilis), palmito juçara (Euterpe edulis) e timboeiro (Lonchocarpus cultratus), entre outros, são utilizadas pelas famílias na confecção de utilitários domésticos e uso medicinal e alimentar. Os resultados florísticos expõem Rutaceae, Musaceae e Fabaceae como as famílias com maior riqueza em agrofloresta, enquanto Fabaceae e Lauraceae se destacaram na coivara e na floresta. As espécies nativas regionais apresentaram percentual maior em coivara e na floresta. Na agrofloresta as espécies exóticas se destacaram. Em ambos os sistemas agrícolas, a maioria das espécies apresentou síndrome de dispersão zoocórica, como observado nos remanescentes estudados. Os parâmetros diversidade(Pr> F 0,03) e densidade absoluta (Pr>F 0,02) diferiram estatisticamente nas áreas agrícolas e de floresta considerando a idade, conforme análise de variâncias, teste F de Fisher. A biomassa total (Pr> F 0,06) analisada pelo teste de Kruskal Wallis também diferiu nas áreas. Ambos os testes foram aplicados a nível de confiança igual a 95%. Em 10 anos houve incremento significativo da densidade absoluta na coivara. A riqueza nos sistemas agrícolas e floresta, são semelhantes, exceto o início do pousio. A única variável que não apresentou diferenças entre as áreas foi a riqueza de espécies(Pr > F 0,06). A partir de 10 anos para coivara e 25 anos de agrofloresta os valores de biomassa total se assemelham a floresta mais antiga do estudo. A biomassa aérea amostrada variou de 6,29 a 119,08 Mg.ha-1 para espécies arbóreas e 2,99 a 140,38 Mg.ha-1 para espécies da família Musaceae. O estoque de carbono variou de 2,95 a 55,97 MgC.ha-1 e 1,40 e 65,98 MgC.ha-1 para espécies arbóreas e Musaceae, respectivamente.