Estado e elites locais no Egito do final do IIIº milênio a.C.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2015
Autor(a) principal: João, Maria Thereza David
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-10122015-155852/
Resumo: Poucos estudos têm se dedicado a explorar de forma mais sistemática o processo que levou ao fim do Reino Antigo (2686 a 2160 a.C.) e ao advento do Primeiro Período Intermediário (2160-2055 a.C.) no Antigo Egito. A relativa escassez de fontes sempre foi um dos argumentos usados para rotular esse momento da história egípcia como uma idade das trevas, na qual a civilização do Nilo teria mergulhado em profundo caos decorrente do enfraquecimento da monarquia unificada articulada em torno do faraó e da elite menfita. Nesse entendimento períodos como esse, de retração da capacidade centralizadora do Estado, permanecem alijados da histórica política egípcia e são encarados como meros hiatos dentro de um curso supostamente natural de centralização política. Pretendendo rever essas interpretações, este estudo se debruça sobre a organização da administração estatal egípcia no período que cobre especialmente da Vª dinastia ao Primeiro Período Intermediário. A análise da documentação, que engloba decretos régios e autobiografias inscritas nas tumbas de alguns dos mais destacados funcionários dessa época, demonstra que a corrente percepção acerca do fim do Reino Antigo, na qual as reformas administrativas empreendidas entre a Vª e VIª dinastias teriam provocado excesso de poder das elites locais, levando-as a se autonomizar e a concorrer com o próprio Estado, é equivocada. Partindo de um concepção materialista a respeito do que se entende por Estado foi possível notar que o poder das elites provinciais, no Reino Antigo, articulava-se em torno de pelo menos três eixos principais: através do exercício de funções burocráticas na administração estatal; como responsáveis por instalações régias nas províncias, a exemplo do Hwt; e por intermédio da administração e sacerdócio tanto em templos de divindades locais quanto nas chamadas capelas do ka, destinadas ao culto dos monarcas egípcios. A conclusão é a de que a autonomia de certos grupos provinciais frente ao poder menfita se dá somente após o enfraquecimento deste último, não estabelecendo com ele uma relação causal. Tal autonomia não se configura, igualmente, como um processo de oposição ao Estado, uma vez que elites locais e Estado sei inseriam na lógica estatal por meio de laços de solidariedade e reciprocidade essenciais ao equilíbrio de ambos. Ao ofertar nova luz ao estudo da administração egípcia busca-se repensar as condições que levaram ao declínio do Reino Antigo, assim como reavaliar o lugar do Primeiro Período Intermediário na história egípcia através de uma perspectiva integradora, inserindo-o na dinâmica das relações de poder que marcaram a trajetória dessa sociedade como um momento fundamental no qual administração estatal, longe de entrar em colapso, reorganizase e se rearticula.