Semiótica e mídia: uma abordagem tensiva do fait divers

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2013
Autor(a) principal: Mendes, Conrado Moreira
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-18102013-150803/
Resumo: Com base nas proposições da semiótica de vertente tensiva, esta tese se ocupa da análise e da teorização do fait divers, categoria jornalística que se refere a eventos de caráter fortuito. O corpus da pesquisa constitui-se primordialmente da cobertura do Caso Isabella Nardoni, compreendido sob a rubrica dessa expressão, realizada pelo Jornal Nacional nos meses de março, abril e maio de 2008. Também compõem o corpus da investigação outros relatos jornalísticos dessa natureza, tanto os que se pautam por uma curta duração quanto aqueles que repercutem na mídia por um período considerável. Em relação ao caso aludido, impôs-se a questão teórica que se refere à pouca duração que um relato noticioso de tal categoria costuma ter. Ao contrário, ele arrastou-se por meses a fio no primeiro semestre de 2008, mantendo, não obstante, uma elevada carga tímica. Dessa forma, procurouse buscar nos mecanismos do discurso as estratégias usadas pelo enunciador Jornal Nacional para extensivizar a intensidade do Caso Isabella Nardoni, o qual se baseia numa estrutura acontecimental e que, por definição, deveria ser muito intenso, mas pouco extenso. Para tanto, a pesquisa se valeu dos seguintes eixos analíticos: concessão e fidúcia, duração e intensidade, a paixão coletiva da comoção e, por fim, relações intertextuais e interdiscursivas que o texto em análise permite estabelecer com outros textos/discursos. Os referidos eixos cumpriram cada qual a tarefa de responder parcialmente o porquê de, a despeito do transcurso da temporalidade, a intensidade em torno do caso enfocado ter sido duradoura. A partir deles, pôde-se depreender um enunciatário em cujo campo de presença a tonicidade se projeta sobre a temporalidade, criando um efeito de persistência. Tal enunciatário é ainda marcado por uma espera tensa, que quer atenuar o impacto do acontecimento, ao mesmo tempo em que ele reverbera ou irrompem novos microacontecimentos. Verificou-se também a presença de um enunciatário comovido, cujo estado emocional funciona à maneira de uma amálgama, fazendo dele parte de um todo coletivo, social. Esse mesmo enunciatário mostra-se modalizado por um querer-saber, cuja expectativa é também sobre determinada por outros textos e discursos com os quais o caso em questão estabelece relações intertextuais e interdiscursivas. É, em suma, um enunciatário que se configura na tensão e na complexidade dos eixos da intensidade e da extensidade, o que explica a duração extensa do Caso Isabella Nardoni. Quanto à leitura semiótica dos demais faits divers, puderam ser observadas as seguintes (in)variantes: todos se ancoram numa base concessiva, todos são perpassados por uma lógica passional, patêmica. Entretanto, nem todos se pautam por um longo período de repercussão. Pelas recorrências observadas no corpus, balizadas pelas esquizias tensivas primordiais intensidade e extensidade, foram depreendidas as categorias duração (do menos durativo ao mais durativo) e memória (do menos memorável ao mais memorável), além do elemento constitutivo paixões. A partir disso, pôde-se fundamentar uma abordagem tensiva do fait divers. Finalmente, a análise de um relato noticioso durativo, raro, que, por meio da estratégia discursiva que extensiviza o intenso, demonstrou de que maneira pode ser possível uma articulação dos regimes discursivos do acontecimento e do exercício a partir de um ponto de vista tensivo e, portanto, complexo