Um \'eu\' que se vai - abordagem tensiva do acontecimento nas Cartas para além dos muros de Caio Fernando Abreu

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2014
Autor(a) principal: Silva, Luis Antonio Damasceno
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-11122014-182512/
Resumo: Desde o momento de seu estabelecimento, a teoria semiótica de linha francesa fundada por Greimas tinha como eixo central as questões do inteligível como proponentes dos estudos e análises do universo da significação nos textos. O percurso da teoria revela a passagem dos estados de coisas, para os estados de alma, centralizando o afeto como elemento provedor da dimensão sensível. Focalizando a primazia do sensível sobre o inteligível, nosso estudo busca observar o percurso desenvolvido pela literatura semiótica até o desenvolvimento da noção de acontecimento como grandeza semiótica que abala a trama e instaura novos e desafiantes percursos discursivos, como é o caso das Cartas para além dos muros, do autor Caio Fernando Abreu publicadas, inicialmente, no jornal O Estado de São Paulo nosso corpus em análise. Por se tratar de um conjunto de quatro cartas que manifestam o discurso da Aids nos primórdios da revelação da doença e em pleno surto da epidemia na década de noventa, esta dissertação apresenta em sua primeira parte uma contextualização histórica da chegada da doença no Brasil, e, posteriormente, diagnostica essa enunciação que, através de estratégias e procedimentos recorrentes, projetou um enunciado fragmentado cuja performance construiu a metaforização do vírus HIV , estratégia discursiva analisada, aqui, a partir da semiótica tensiva, da qual Claude Zilberberg emana como um dos expoentes. As cartas-corpus de Caio Fernando Abreu apresentam um percurso que vai da obnubilação à revelação do conteúdo, da fundação do discurso poético ao estabelecimento do discurso informacional, tendo a veridicção como regente de um ou outro regime textual na alternância de elementos selecionados, estabelecendo um só discurso cujo contínuo revela uma estética híbrida do mítico ao referencial. A manifestação discursiva da doença como metáfora corrobora o acontecimento como elemento perturbador que desestabiliza as modalidades e engendra manobras enunciativas na construção do discurso cujo empreendimento, agora fragmentado, leva a enunciação a rever projetos e instaurar uma narratividade que dê conta do assomo, produto da fratura no croqui desse edifício chamado enunciação. Essa alternância observada regimenta um discurso sincrético, cujo continuum revela o efeito de sentido de instabilidade como já era previsto na manifestação de um conteúdo tímico que circula entre a dêixis da vida e da morte