Experiências de desigualdades raciais e de gênero. Narrativas sobre situações de trabalho em uma fast fashion

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Santos, Silvio Matheus Alves
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8132/tde-07112019-170454/
Resumo: A tese buscou sistematizar situações e refletir sobre experiências de discriminação expressas nas relações cotidianas de trabalho de uma Fast Fashion no Brasil. Nesse sentido, o foco central da tese se tornou a análise da experiência vivida pelos sujeitos com relação às formas de desigualdade que se apresentam e que operam enquanto mecanismos de discriminação de trabalhadores negros e negras nos seus locais de trabalho. Para pensar sobre um tema tão caro à sociologia e à sociedade brasileiras, observei as narrativas em que situações de trabalho demonstraram como as desigualdades se traduziram em comportamentos e atitudes discriminatórias. A pesquisa foi dividida em dois tempos (passado e presente) e espaços (Aracaju/SE e São Paulo/SP) buscando analisar as mudanças e as permanências do vivido, por meio de dados de campo, do caderno de memórias e de novas observações e entrevistas. O relato (auto)biográfico individual do Autor foi o meio inicial para entrar, de forma densa, na caracterização da situação de trabalho da perspectiva dos agentes que dela participam. Assim, foi possível descrever situações de discriminações expressas, suas formas racializadas, bem como os diferentes modos que os indivíduos expressam a racialização do outro, e até mesmo como aquele, interpelado por sua origem racial ou discriminado em virtude desta, percebe e elabora tal discriminação diante das suas vivências e em relação ao processo de construção da sua identidade. A autoetnografia ofereceu a base para este percurso autorreflexivo e analítico sobre experiências e ações dos sujeitos de pesquisa que são, ao mesmo tempo, sujeitos (pesquisador e pesquisado) em relação/interação. Essas relações, conquanto expressas/vividas no plano micro, são sempre remodeladas e/ou perpassadas por macroprocessos (culturais, políticos, sociais, aqui compreendidos os fatores étnicos e raciais, as questões de gênero e orientação sexual, todas interseccionalizadas, hierarquizadas e baseadas, portanto, na desigualdade real de oportunidades e ascensão pelo mérito) de onde extraem seus significados. Esse olhar complexificado sob a ótica da centrifugação interseccional possibilita uma profunda e cuidadosa reflexividade para compreender e questionar as interseções entre o pessoal e as representações culturais, o sujeito e o social, o micro e o macro. Quando as desigualdades impostas a partir dos marcadores de diferença entram em ação nas interações sociais e simbólicas, por meio das ações dos sujeitos, as representações sociais muitas vezes guiam as subjetividades, e nessa ação cotidiana, rápida, muitas vezes irrefletida, leva à reprodução de padrões, estereótipos e pré-conceitos que limitam o acesso de pessoas e grupos a determinados espaços de poder ou a cargos hierárquicos em empresas. E ainda que o desempenho desses sujeitos supere os de outros, se constroem barreiras que limitam as conquistas individuais tão presentes no discurso do mérito propagado socialmente e pela empresa aqui pesquisada.