A terrível beleza cotidiana do negro drama: uma leitura com e contra o arquivo da escravidão dos diários de Lima Barreto e Carolina Maria de Jesus

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Sousa, Fernanda Silva e
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Rap
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8151/tde-16072024-183550/
Resumo: Esta é uma tese de doutorado que visa colaborar para a construção de uma teoria literária e literatura comparada que esteja em diálogo com o arquivo da escravidão, reconhecendo seus efeitos, limites e possibilidades para a leitura, análise e interpretação de textos literários de autoria negra. Defendo, em resposta à violência antinegro, a necessidade de uma ética do cuidado que se baseie em um gesto especulativo, imaginando o que não está nos textos, mas que pode ser pensado a partir deles, como propõe Saidiya Hartman em relação ao arquivo da escravidão, a pesquisa se baseia na leitura de Diário íntimo e Diário do hospício, de Lima Barreto, e de Quarto de despejo: diário de uma favelada e Casa de alvenaria: diário de uma ex-favelada, de Carolina Maria de Jesus. Assumindo a experiência de ser negro como eixo estruturante desses escritos e, consequentemente, a impossibilidade de abordar essa experiência sem remontar ao passado da escravidão, os diários são situados no arco de uma tradição literária e intelectual afrodiaspórica que desafia as fronteiras entre escravidão e liberdade, arte e vida, narrativa e experiência. Nesse processo, a música Negro drama, dos Racionais MCs, lançada no álbum Nada como um dia após o outro dia, é a ferramenta teórica para a elaboração da categoria negro drama, pensada tanto como a experiência vivida do negro quanto como as diferentes formas de narração dessa experiência, aproximando depoimentos de escravizados, livres e libertos, canções de artistas negros brasileiros e textos literários de autoria negra, sobretudo Amada, de Toni Morrison. Considerando a música Negro drama como uma narrativa atravessada por ambivalências, tensões e dilemas que dão forma à condição existencial da população negra, Lima Barreto e Carolina Maria de Jesus são interpretados como parte de um vasto coletivo de homens e mulheres negras que lutaram pelo direito à vida em todas as suas dimensões, de maneira que os anseios, desafios, sonhos que se apresentam nos diários podem ser ampliados por meio da conexão com outros modos de narrar o negro drama, que se tornam fundamento de uma sobrevivência que passa pela reivindicação e experimentação da beleza no cotidiano em meio a uma experiência de terror. Assim, numa leitura com e contra o arquivo da escravidão, Lima Barreto e Carolina Maria de Jesus emergem como dois sobreviventes da violência racial que narraram em seus diários, em tom menor e no privado, a terrível beleza do negro drama que os Racionais MCs puderam gritar, a plenos pulmões, em 2002, ecoando as vozes daqueles que resistiram e daqueles que não sobreviveram