Resumo: |
Introdução: Pacientes com doença renal crônica (DRC) tem uma alta prevalência de distúrbios do sono, tais como apneia do sono e a alteração no tempo de sono. Uma complicação também frequente na DRC é a desordem do metabolismo mineral e ósseo (DMO-DRC). Alguns estudos sugerem que tanto a apneia do sono quanto a duração do sono estão relacionadas à saúde óssea, porém estas associações não foram suficientemente avaliadas. Objetivos: Este estudo propõe a avaliação da associação tanto da apneia do sono quanto do tempo total de sono com marcadores de formação e reabsorção óssea, densidade mineral óssea (DMO) e microestrutura óssea, em pacientes com DRC estágio 3. Métodos: estudo de coorte prospectiva observacional com 12 meses de acompanhamento. Foram realizadas poligrafia, questionário de tempo de sono e actigrafia na inclusão; Apneia do sono foi definida como índica de apneia e hipopneia (IAH) > 15 eventos/h de sono. Foram avaliadas alterações bioquímicas séricas, paratormônio e 25 (OH)-vitamina D no momento da inclusão e a cada 6 meses; marcadores de remodelação óssea (CTX, propeptideo procolágeno tipo 1 - P1NP), fator de crescimento de fibroblasto 23 (FGF-23), densitometria (absortometria radiológica com dupla energia-DXA) e tomografia computadorizada quantitativa periférica de alta resolução (HRpQCT) foram avaliados na inclusão e após 1 ano. Excluímos pacientes em uso de medicação anticonvulsivante, bisfosfonatos e carbonato de cálcio, além de pacientes acamados e obesos. Resultados: Foram incluídos 34 pacientes (idade 51 ± 3 anos, 44% homens, 6% com diabetes, taxa de filtração glomerular estimada de 46 ? 8 ml/min/1.73m2 ). A média do tempo de sono avaliada pela actigrafia foi de 369 ± 74 min, sendo 36% <= 6 h. Tempo de sono medido e auto relatado não se correlacionaram; pacientes que dormiram por tempo <= 6 horas não diferiram dos demais nos parâmetros bioquímicos, na prevalência de osteopenia/osteoporose e nos marcadores Ctx, FGF23 e P1NP; o tempo de sono se correlacionou negativamente com a DMO do fêmur (p=0,050). Pacientes com apneia (N=17) apresentaram menor concentração de 25(OH)-vitamina D (p=0,042) e menor CTx (p=0,030). O IAH se correlacionou significativamente com valores de T-escores e DMO no fêmur esquerdo, com a DMO do rádio ultradistal e 1/3 proximal do rádio, com a área trabecular da tíbia e do rádio. Maior duração de hipoxemia se correlacionou com redução da CTx em 1 ano. Durante o acompanhamento, o número de pacientes que apresentou queda na DMO do fêmur esquerdo foi menor entre os apneicos do que nos não apneicos (p=0,038); análise logística multivariada comprovou o papel protetor da apneia do sono na DMO do fêmur (RR 5,5, 95% intervalo de confiança: 1,05-28,8, p=0,044), independente da função renal, idade, índice de massa corporal e concentração de 25(OH)-vitamina D. Conclusão: A apneia obstrutiva do sono, mas não o tempo de sono, se mostrou um fator protetor, levando a menor perda de DMO em 1 ano de acompanhamento, mesmo após múltiplos ajustes para fatores confundidores. O exato mecanismo pelo qual a apneia do sono protege contra a perda óssea em pacientes com DRC permanece por ser esclarecido |
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