Continuidades e descontinuidades de si na narrativa de homens que tiveram envolvimento com o crime\".

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2003
Autor(a) principal: Silva, Ana Paula Soares da
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59137/tde-09062009-154727/
Resumo: Os estudos sobre desenvolvimento e criminalidade produziram um discurso que toma o comportamento infracional como um acontecimento investido de um alto padrão de repetição e estabilidade. Ao mesmo tempo em que refletem as concepções sociais, esses estudos orientam o interesse de investigação para a continuidade, negligenciando a existência de múltiplas trajetórias desenvolvimentais e legitimando o próprio conhecimento e discurso produzidos. Do ponto de vista empírico, verifica-se a predominância da identificação dos fatores envolvidos na manifestação da delinqüência e no seu curso de desenvolvimento e, nesse sentido, as produções resultantes são discursos que falam sobre os infratores e não a partir de ou com eles. Nesse trabalho, defende-se a idéia de que para compreender os processos de desenvolvimento em contextos criminais, faz-se necessário considerar as significações atribuídas a esse fenômeno, principalmente por parte de quem o vivenciou. Desloca assim a discussão e a investigação sobre continuidade e descontinuidade para o âmbito da construção de identidades pessoais e sociais. Compartilhando uma concepção de pessoa humana múltipla, situada em contextos interacionais, que negocia posições a cada momento, defende-se que continuidade e descontinuidade de si só podem ser entendidas dentro do jogo complexo de relações entre as posições assumidas pelas e atribuídas às pessoas que, mais do que obedecer a uma lógica linear, atuam numa multiplicidade dialógica. A partir da utilização de conceitos advindos das perspectivas da identidade narrativa, Dialogical Self e Rede de Significações, defende-se que continuidades e descontinuidades acontecem num movimento de figura e fundo de posicionamentos mediados por relações sociais e culturais, permitindo a existência de \"novas\" e \"velhas\" posições, oriundas do tempo histórico, do tempo vivido e do aqui e agora. Partindo desses pressupostos, o objetivo do trabalho é investigar como a relação entre continuidade e descontinuidade de si se articula na narrativa dos participantes e como, numa situação de entrevista autobiográfica, eles se posicionam e são posicionados ao significar os eventos vividos, no nível do evento narrado e no nível do evento narrativo. O corpus da investigação foi construído através de entrevistas realizadas com dois homens que tiveram envolvimento com o crime em algum momento de suas vidas. Considerando a narrativa como um recurso privilegiado de descrição e construção de si, a partir de uma concepção dialógica, ela é tratada de modo a compreender tanto os posicionamentos assumidos pelos participantes nos diferentes momentos de vida narrados como posicionamentos emergentes na interação pesquisador-pesquisado e nas marcas de linguagem, como mistura de tempos verbais, pausas, sentenças inconclusas. A análise aponta para existência de um movimento onde continuidade e descontinuidade de si se dão numa negociação de posições mais do que num simples deslocamento ou substituição; negociações carregadas de conflitos e permeadas por questões de gênero, classe e poder.