Uma poeira de pequenos conflitos: trajetórias, aspirações e ação reivindicativa de trabalhadores terceirizados de serviços no Brasil (2005-2023)

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Guelerman, Alexandre
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8132/tde-22122023-194910/
Resumo: A década de 2010 assistiu à ascensão de um notável ciclo de greves no Brasil; no entanto, esse ciclo de greves não protagonizou transformações importantes na conjuntura política ou sindical, em contraste com o ciclo de greves da redemocratização. Nesta pesquisa, almejo uma compreensão mais aprofundada dos mecanismos capazes de explicar tanto a emergência desse ciclo extraordinário de greves quanto o fato de que ele não levou em larga escala à constituição de novos atores políticos coletivos. Para isso, analiso estatísticas sobre greves e outras modalidades de conflitos trabalhistas no Brasil, e conduzo entrevistas em profundidade com trabalhadores que participaram de greves que podem ser consideradas representativas do mais recente ciclo grevista (considerando-se setor de ocorrência, dimensões e demandas). Minha tese é que a emergência, as características e os desenlaces dessas greves se relacionam às características do arranjo neoliberal de inclusão social experimentado por trabalhadores precários no país na Nova República, sobretudo durante os governos petistas. Essas greves (de pequena escala e curta duração, protagonizadas por trabalhadores de serviços precários, orientadas à concretização de direitos historicamente descumpridos, fragilmente vinculadas a sindicatos) foram parte de uma conflitualidade trabalhista de diversas facetas, que envolve também formas individuais de resistência aberta à sonegação de direitos (ações judiciais, rescisões indiretas, denúncias trabalhistas, recusa a ordens abusivas). É possível vincular tal \"poeira de pequenos conflitos\" ao modo como experiências de inclusão pelo consumo, inclusão educacional e inclusão digital impactaram a autoestima e as expectativas normativas de trabalhadores precários, levando-os a buscar maior conhecimento a respeito de seus direitos e diminuindo sua tolerância frente a infrações. Tal \"empoderamento individual\" de trabalhadores precários, que abala hierarquias tradicionais de paternalismo e submissão nos estabelecimentos precários de serviços no país, é relativamente persistente mesmo após anos de empobrecimento social deflagrado pela crise econômica de 2015. No entanto, esse mesmo conjunto de experiências de inclusão social, na medida em que foi viabilizado em um arranjo político-econômico neoliberal e competitivo, não suscita automaticamente interesse em métodos formais ou duráveis de organização coletiva e atuação política, fato importante para explicar a incapacidade desses conflitos de protagonizar transformações político-institucionais.