Voz e silêncio da escrita: cem anos de depoimentos de literatos brasileiros

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2015
Autor(a) principal: Garcia, Silas Sampaio
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-04112015-133742/
Resumo: A presente pesquisa debruça-se sobre a produção, a circulação e a apropriação de depoimentos de escritores brasileiros, por meio da análise de entrevistas constantes de 36 publicações que circularam no Brasil no decorrer de um século de 1905, data dos primeiros inquéritos literários no país, a 2004 , as quais compuseram um arquivo contendo 563 depoimentos de diferentes gerações de autores. Inspirados pelo legado de Michel Foucault e de outros pensadores de orientação pós-estruturalista, entendemos a discursividade aí presente em termos de gestão social da escrita, cujo funcionamento dar-se-ia por meio de uma intrincada rede de ações responsáveis por fomentar as políticas de escrita em nossa sociedade, sobretudo a partir do modus operandi da literatura, esta conotada como a escrita modelar. Desta feita, operamos com base em três eixos analíticos e seus respectivos deslocamentos: 1) as relações entre o escritor e a profissionalização de seu ofício; 2) as relações alegadas entre o escritor e sua prática; e 3) o papel social do escritor. Do ponto de vista analítico, evidenciaram-se o processo de especialização do literato, em detrimento do jornalismo e firmando-o cada vez mais como autor de livros de ficção; a associação da escrita à noção de processo criativo; e, por fim, as diversas atribuições conferidas aos homens de letras, as quais apontam para um eminente afastamento do seu papel político na sociedade. Tendo em mente o interesse crescente por aquilo que os escritores teriam a ensinar ao homem comum, os depoimentos despontam como uma maquinaria produtiva de enunciados que se espraiam pelo tecido social, versando sobre modos artísticos tanto de vida quanto de escrita, sendo estes últimos supostamente originários de alguma instância criadora inerente ao sujeito literato. Novamente com Michel Foucault, divisamos em tal discursividade um acirrado mecanismo de governo da prática escritural, sobretudo por meio da afirmação recorrente de uma tal natureza criadora atrelada aos literatos. Por fim, recuperamos uma das experiências derradeiras de Clarice Lispector, personagem que trafegou intensamente pelo universo das entrevistas jornalísticas, a fim de perspectivar a possibilidade de um modo de endereçamento ao gesto escritural que se quer simplificador, quando não profanador, da presumida sacralidade a ele imanente, facultando-lhe, assim, um encontro silencioso e potente com nós mesmos.