Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2014 |
Autor(a) principal: |
Santos, Gustavo Henrique Guiral dos |
Orientador(a): |
Não Informado pela instituição |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Dissertação
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Link de acesso: |
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-05022015-134523/
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Resumo: |
Almejando uma problematização geral do encontro entre as práticas educacionais e as literárias, a presente dissertação oferece uma especulação estórica sobre determinadas formas vigentes de governo das forças escriturais. Para tanto, investiga a figura pública do literato, tomando-a como catalisadora dos ditames relativos a um suposto bem escrever, os quais caberia à pedagogia transmitir, prescrever e disseminar para uma população de leitores eficazes, bem como de escreventes virtuais. Municiando-se do aporte analítico de Michel Foucault, o trabalho apropria-se especialmente das noções de função-autor e de sociedade de discurso, a fim de interpelar as investidas governamentalizadoras incidentes no ato de escrever, as quais tanto permitiriam-no e proliferariam-no dentro de alguns limites veridictivos, quanto distribuiriam-no apenas entre alguns eleitos e, assim, rarefariam-no. Dedicando-se, sobretudo, ao gesto procedimental foucaultiano, a pesquisa procura endereçar-se a seu locus empírico à moda arqueogenealógica, forjando um approach analítico que pudesse almanaquear as fontes de pesquisa, cobiçando minorá-las, esgueirando-se do que nelas houver de imperativo e potencializando suas adjacências, de modo a dar conta de seu nomadismo, sem a pretensão de totalizá-las. Constituem a superfície empírica da dissertação os discursos de posse da Academia Brasileira de Letras, contabilizados em 408 textos, no arco de 117 anos. Diante da massa discursiva aí presente, quis-se confeccionar, fragmentariamente e sem pretensão cronológica, uma história outra da literatura brasileira, menos fadada à lógica interna da instituição literária, e mais ocupada com as relações de poder que atravessam suas práticas, provocando efeitos tão exteriores quanto, à primeira sensação, desvinculados delas. Tratou-se, ali, não de isolar os preceitos do bem escrever relacionados às condições propriamente da lavra escritural, tais como o emprego de determinadas técnicas, nem a quantidade de escritos, sequer sua qualidade, mas de perspectivar o direito às belas-letras, o qual foi concedido, ao que parece, a quem pudesse exibir uma biografia tida por extravagante ou muito correta, quer escrevesse à moda de Machado de Assis, de Paulo Coelho ou, ainda, de Adelino Fontoura, quem sequer escreveu senão em cadernos particulares, encontrados e publicados apenas décadas após seu falecimento e eleição para a Academia. Desta feita, nos discursos de posse, nota-se que três vetores concorrem em grande medida para a governança da escrita, todos eles concernentes à esfera privada dos literatos: a) suas relações interpessoais, com destaque para sua atuação em família; b) os locais onde nasceram, residem e que frequentam; e c) a maneira de trajarem-se e de portarem-se em público. Conclui-se, assim, que os modos de governo da escrita, tal como se pôde compreendê-los, redundam em uma severa restrição do gesto escrevente, porque nem mesmo se trata de estipular genialidade ou engenhosidade, mas de forjar adequação e incorporação ao meio literário ou, então, o consentimento à condição de irrequieto consumidor da produção cultural. |