A clínica psicanalítica com migrantes livres e a hipótese do sujeito partido

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Pereira, Maria Liliana Ines Emparan Martins
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47133/tde-24072021-134753/
Resumo: Os deslocamentos humanos na atualidade vêm demandando bastante atenção de diversos profissionais e do público em geral. À psicologia clínica, colocam-se diversos desafios no acompanhamento e tratamento dos migrantes contemporâneos. É nesse contexto que o objetivo geral desta tese é analisar em termos metapsicológicos a clínica psicanalítica com migrantes livres, neuróticos e já estabelecidos no Brasil, cuja queixa principal diz de um estranhamento ligado a uma imagem de si mesmo dividida. Propomos a hipótese desse migrante como um sujeito partido, cuja imagem de si partida é correlativa a um sujeito em conflito e dividido entre grupos internos o de origem e o de destino. Trata-se de uma pesquisa teórico-clínica qualitativa, que parte de conteúdos clínicos de sofrimento relatados por alguns migrantes diante do tensionamento entre grupos internos (René Kaës) no processo de elaboração das implicações de mudança de país, cultura, língua, grupos familiar e relacional. Inicia-se a tese com um histórico dos movimentos de deslocamento como inerentes ao processo civilizatório e de suas peculiaridades e efeitos na era da globalização. Para fundamentar a hipótese do sujeito partido, analisaram-se textos da metapsicologia freudiana na sua relação com o tema das migrações/deslocamento; foi assim que se articularam o exílio primordial referido em Totem e tabu e as migrações na atualidade. Em seguida, trabalham-se os conceitos de sujeito dividido freudiano (Spaltung), duplo estranho-estrangeiro (Unheimlich) e o conceito de intermediário construído por Kaës. Propõem-se algumas construções socioculturais em relação a pertencimentos e identificações como o mito do migrante exitoso e o mito da volta à Terra Prometida. Destacam-se os conceitos de língua e cultura(s) como vicissitudes cruciais da clínica com migrantes, entendendo cultura como a terceira diferença (Kaës). O material de quatro casos clínicos com migrantes livres foi analisado a partir da criação de cinco categorias: (1) queixas de um sujeito partido: estranheza, angústia, divisão e tensionamento, (2) manejo clínico da transferência e da associação livre de um sujeito partido em trânsito entre línguas e culturas, (3) diferentes posições subjetivas e sua relação com pertencimentos e identificações como formações intermediárias, (4) trajetória clínica entre idealização, elaboração e reconfiguração e (5) aspectos metapsicológicos articulados a grupos internos (de origem e de destino) e reedição do exílio constitutivo. Conclui-se que trabalhar a partir da hipótese desse migrante como um sujeito partido contribuiu para a análise e o manejo dos processos clínicos nos efeitos transferenciais e na associação livre entre línguas e culturas e nos reposicionamentos ligados a pertencimentos intermediários como redutores de oposições (Kaës), promovendo deslocamentos psíquicos como o vir a ser de um sujeito não fixo. Esperase que os resultados da pesquisa possam contribuir com estudos na interface entre migração e psicanálise e, consequentemente, com a clínica com migrantes em suas especificidades