Na trama da branquitude mestiça: a formação de professores à luz do letramento racial e os meandros da branquitude brasileira

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Bastos, Janaina Ribeiro Bueno
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48138/tde-24062021-184253/
Resumo: Este estudo trata das especificidades da branquitude brasileira e da necessidade de ruptura com seu discurso no âmbito escolar e na formação de professores. Baseado nos estudos sobre branquitude realizados nos EUA e no Brasil, e nas pesquisas de Fernandes (1972), Harris (1964), Hasenbalg (2005), Valle Silva (1999a), Nogueira (2007) e Munanga (1999) sobre a questão racial brasileira, discute a trama que envolve a mestiçagem no país e a imposição da ideologia do branqueamento, ponderando que o lugar da branquitude no Brasil pode ser ocupado por sujeitos mestiços, na medida em que algumas prerrogativas são concedidas a uma parte desses indivíduos, conforme o grau de branqueamento estético ou social evidenciado. Isso faz com que internalizem o modo de ser e estar no mundo da branquitude e adotem discursos que cooperam para a manutenção do poder branco, situação que é corroborada pela ausência de diálogo sobre o tema no país e pela crença no mito da democracia racial. Procura-se refletir sobre como essa realidade obstaculiza o enfrentamento da hierarquização racial na sociedade e na escola brasileira, uma vez que ela dificulta a percepção da questão, sobretudo por parte daqueles que se beneficiam desse sistema. Tal problemática atinge os professores, sujeitos que integram essa estrutura social marcada pelo racismo à brasileira, e traz consequências para os alunos, devido à naturalização da hegemonia branca e do silêncio sobre o tema. A pesquisa de campo, inspirada na metodologia da pesquisa-ação, foi realizada com licenciandos do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP) Campus São Roque que atuavam como docentes em um projeto de extensão em uma escola pública de ensino fundamental localizada na periferia do município. O projeto de extensão envolveu o desenvolvimento de oficinas de hip-hop e ciências, visando à valorização do pertencimento étnico-racial dos alunos da escola, e reuniões de formação com os licenciandos para atuarem como professores das oficinas, almejando compreender o discurso da branquitude e tensioná-lo por meio do desenvolvimento do letramento racial (TWINE, 2004). O trabalho junto aos licenciandos trouxe elementos significativos para se pensar sobre o processo de construção da branquitude mestiça, ao mesmo tempo que proporcionou aos participantes da pesquisa um aumento da consciência racial e rupturas com o pacto narcísico da branquitude. Observou-se que o ideal de branqueamento e a mestiçagem engendraram a diluição das identidades no Brasil, fazendo com que indivíduos não brancos usufruam de privilégios associados à branquitude mestiça. A ausência de diálogo sobre a questão, por sua vez, obstrui o desenvolvimento de uma consciência racial por parte do conjunto da sociedade. Nesse sentido, pode-se afirmar que o letramento racial e a consequente ruptura com o discurso da branquitude são fundamentais para a formação de educadores de diferentes pertencimentos raciais, auxiliando-os na compreensão de como a questão da raça se mostra presente no âmbito escolar e em suas próprias experiências, constituindo-se, muitas vezes, em um obstáculo para o combate às desigualdades sociais e étnico-raciais no Brasil.