A Guerra dita Justa que nunca acabou: uma contra-história Krenak

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Azola, Fabiano André Atenas
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8134/tde-24062021-185255/
Resumo: Os Krenak do Rio Doce, povo de língua macro jê descendente de uma série de coletivos que nos séculos XVIII e XIX ficaram conhecidos como \"Botocudos\", foram alvos de distintas tecnologias de violência por parte de agentes do Estado Brasileiro e de setores do Capital nos últimos dois séculos: foram um dos últimos povos indígenas a serem objetos do mecanismo jurídico colonial da \"Guerra Justa\" com a chegada da família real no Brasil em 1808, passando por remoções forçadas e pela construção de um presídio indígena em seu território durante o período militar, até o ecocídio cometido contra seu rio sagrado (\"Uatu\") em pleno século XXI. Os Krenak nos últimos anos se engajaram ativamente na luta por seus direitos à reparação histórica nos espaços de justiça de transição e construiram uma série de alianças e outros espaços onde seu povo poderia \"contar sua história\" aos não-indígenas. Esta pesquisa teve como objetivo descrever o que chamei de uma \"contrahistória Krenak\". Uma matriz narrativa que conta a história das relações de seu povo com o mundo dos brancos e que subverte uma série de balizas temporais e supostos que sustentam nossa ideia de \"História\". Para os Krenak, os diferentes eventos de violência perpetrados pelos Kraí (brancos) ao longo dos últimos dois séculos são atualizações de um evento primeiro (a \"Guerra Justa\" de D.João VI), que funda a relação de seu povo com a sociedade envolvente e que ainda não teve fim. Em um primeiro momento, analisamos as características estruturais dessa narrativa e os possíveis deslocamentos que ela coloca para nossa matriz de significação da experiência no tempo, o que chamamos de \"História\". Na segunda parte, a partir da interlocução com anciãos e lideranças Krenak da Aldeia Vanuire-SP e da análise de outros materiais produzidos pelos Krenak, buscaremos compreender certos padrões recorrentes nas memórias históricas (e na construção de espaços de transmissão delas) da relação de seu povo com os brancos, e como estes padrões se relacionam com certo fundamento da cosmologia e dos modos de existência Krenak. Por fim, a investigação irá se deter na importância dessa contrahistória nas lutas atuais por reparação, anistia, demarcação e o que suas lideranças chamam de \"reconhecimento\". E como suas narrativas podem ser potentes no deslocamento de certos pressupostos de nossa ideia de \"História\", que muitas vezes limitam a construção de políticas de reparação mais eficazes e justas aos povos indígenas no Brasil.