Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2022 |
Autor(a) principal: |
Carmo, Milena Mateuzi |
Orientador(a): |
Não Informado pela instituição |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Link de acesso: |
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8134/tde-30012023-200602/
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Resumo: |
Nesta tese, analiso como famílias moradoras de territórios empobrecidos das periferias da cidade de São Paulo são afetadas pela intensificação da violência por parte de agentes do Estado e pela ampliação do mundo do crime. Argumento que tais efeitos, que implicam também em agenciamentos, são profundamente generificados. Por um lado, são os homens que estão diretamente envolvidos em guerras em torno do controle de territórios sendo, portanto, as vítimas diretas de homicídios, agressões e prisões. Por outro lado, sobre mulheres recaem a dor da perda, as sobrecargas financeiras e emocionais acumuladas pela responsabilidade do cuidado e pela tarefa cotidiana de (re)construir mundos devastados. No decorrer de mais de dez anos de envolvimento com o campo de pesquisa - constituído por redes de solidariedade, por lutas forjadas por mulheres e pelo cotidiano de famílias que tiveram filhos mortos e presos - observei como episódios de violência vividos por essas famílias são experimentados como bruscas rupturas de seus mundos. São as mulheres que assumem a difícil tarefa de voltar à vida a partir do trabalho cotidiano do cuidado em um contexto em que os impactos da violência se manifestam não apenas como trauma, mas também figuram como constantes ameaças de repetição. Acompanho, nesta pesquisa, a perspectiva das mulheres, pois as famílias com as quais trabalhei eram geridas por elas. Mães, filhas, avós, irmãs e tias tecem redes de apoio a partir de relações de vizinhança, parentesco, amizade e ativismo tendo em vista mitigar as múltiplas consequências dessas violências. Neste sentido, o cuidado, como dimensão inescapável das trajetórias de mulheres, sobretudo das classes trabalhadoras, torna-se central. Ele é vivido de forma ambígua e reproduzido como prática e gramática de agencimentos e lutas. Em suma, esta tese busca demonstrar a produção cotidiana das margens operada por mulheres através da ação permanente e silenciosa (ou silenciada) do cuidado que, por sua vez, é entendido não apenas como mera reação às violências, ou uma reprodução automática dos papéis de gênero, mas como produção criativa e política de mundos a partir de experiências generificadas. |