Sentidos construídos acerca do relacionamento de filhos com mães diagnosticadas com um transtorno mental: entre recursos e déficits

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2014
Autor(a) principal: Palacio, Marilia Belfiore
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59137/tde-10092014-152907/
Resumo: O cuidado em saúde mental no Brasil tem passado por muitas transformações, sobretudo a partir dos movimentos que deram início à reforma psiquiátrica brasileira. Entre estas transformações, destaca-se a crescente valorização dada pelas políticas e práticas de saúde à necessidade de maior participação da família no tratamento do doente mental. No entanto, paradoxalmente, acerca da relação mãe-filho, a compreensão de que a convivência com a mãe diagnosticada com doença mental pode ser prejudicial para a vida dos filhos tem tido maior destaque na literatura da área. Este estudo qualitativo teve como objetivo compreender o complexo campo da produção de sentidos sobre relacionamento entre filhos e mães diagnosticadas com um transtorno mental, considerando tanto o discurso científico sobre o tema, como a negociação de sentidos nas práticas discursivas, no cotidiano. De maneira mais específica, buscou-se investigar como filhos de mães diagnosticadas com um transtorno mental significam seu relacionamento e convivência familiar. Foram realizadas oito entrevistas individuais, semi-estruturadas, com filhos(as) maiores de 18 anos de mulheres que fazem tratamento em um serviço de saúde mental em um município de médio porte do interior do estado de São Paulo, diagnosticadas com um transtorno mental, e que já passaram por uma internação psiquiátrica. As entrevistas foram gravadas em áudio e transcritas literalmente e na íntegra. Além disso, durante todo o processo de inserção no campo, foram feitas notas de campo com as descrições e impressões da pesquisadora. Dessa forma, o corpus da pesquisa foi constituído por esses registros e pelas transcrições das entrevistas. A pesquisa foi elaborada com base nas contribuições do movimento construcionista social em Psicologia, sobretudo considerando a pesquisa como processo dialógico, em que a participação do pesquisador e sua reflexividade perante o campo e o corpus é ressaltada na construção da pesquisa. Assim, a partir desse envolvimento e da produção de sentidos conjunta, discutimos aspectos importantes que nortearam a realização da pesquisa e damos visibilidade para reflexões principais do processo. Além disso, também analisamos a produção de sentidos nas entrevistas em dois eixos de discussão: Sentidos de Doença Mental como Déficit e Sentidos de Recurso da convivência. No primeiro eixo, destacamos momentos em que o Discurso do Déficit atravessou as conversas sobre o relacionamento familiar, isto é, momentos em que a doença mental é compreendida como dificuldade ou falha contida no indivíduo (no caso, na mãe-doente mental). No segundo eixo, destacamos os momentos de convivência nos quais houve a possibilidade de ampliar os sentidos sobre a doença mental, dando visibilidade aos recursos construídos na relação mãe-filho. A discussão aponta para a convivência de ambos nas práticas discursivas. Concluímos que apesar da forte influência do Discurso do Déficit no relacionamento familiar com o doente mental, outras narrativas sobre essa convivência são possíveis, evidenciando os recursos que podem ser produzidos conjuntamente nessa relação. Espera-se que esse trabalho possa contribuir com a construção de práticas no campo da saúde mental, ampliando a reflexão sobre a construção do cuidado, especialmente visando uma maior valorização, apoio e fortalecimento das famílias.