Os desmentidos sociais e institucionais do tráfico de drogas no sertão paraibano: uma escuta possível?  

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Oliveira, Juliana e Silva de
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47133/tde-10072024-165646/
Resumo: Este trabalho tem como objetivo compreender, através da perspectiva ferencziana do trauma, os desmentidos sociais e institucionais, com base nas discussões de Kupermann (2019), Gondar (2012), Canavéz e Vertzman (2021), que atravessam os jovens inseridos no tráfico de drogas, a partir da realidade do contexto nordestino. Tomemos por referência o aspecto relacional e intersubjetivo do traumático, refletindo a importância na constituição subjetiva dos sujeitos e do próprio laço social (Ferenczi, 1931). A maioria destes jovens cresce em um ambiente de violência social cotidiana e ainda de uma violência da indiferença, em que suas falas e suas verdades não são reconhecidas nas configurações sociais e institucionais e, após a inserção no tráfico, dada a dimensão da ilegalidade, da agressividade cotidiana, da guerra, esses sujeitos encontram cada vez mais resistência com a escuta de seus testemunhos. O Estado (instituições educacionais, de saúde, de assistência social), que deveria proteger, por vezes, comete o desmentido de forma violenta, através do silenciamento e muitas vezes da agressão, por exemplo, por parte de agentes de segurança pública. A tentativa de compreensão do real ocorre a partir da narrativa inserida em uma realidade histórica e socialmente determinada. A fim de escutar a fala destes sujeitos, na tentativa de investigar os desmentidos sociais e institucionais, realizamos quatro entrevistas semi-dirigidas com cada um dos cinco jovens participantes desta pesquisa, que tinham histórico de envolvimento com tráfico de drogas e que estavam cumprindo medida socioeducativa de internação em um Centro Educacional localizado no sertão nordestino. As entrevistas foram discutidas e interpretadas por meio da Análise Interpretativa de Erickson (1989), a partir da teoria psicanalítica da traumatogênese ferencziana. O processo de análise permitiu a construção de cinco asserções: a vivência do traumático nas histórias de vida, através do desamparo familiar e social, atravessa o envolvimento com atos infracionais, ocasionando danos psíquicos que por vezes não encontram um espaço representacional; o Centro Educacional (a institucionalização) proporciona novas possibilidades à proteção, mas a partir de uma relação que desautoriza, que desmente - uma proteção/um amparo com a grade; o processo de clivagem narcísica e a identificação com agressor (o deslocamento entre vítima e agressor) gera a tendência à repetição do comportamento violento e reatualiza o desmentido social traumático no contexto de guerra do tráfico de drogas; os efeitos do traumático atravessam a construção de novos vínculos, a partir da não disponibilidade para novas relações de amizade; não há um espaço de escuta, de representação dos conteúdos psíquicos e da vivência dos desmentidos, a não ser na própria introspecção papel da música/arte. À exceção dos espaços de exploração sensacionalista da mídia, ou ainda dos de atravessamento de discursos médico, psiquiátrico/psicológico e jurídico da criminalidade, verifica-se que existe uma resistência social em escutar as narrativas dos jovens inseridos no tráfico de drogas. No entanto, essa escuta é necessária, visto que o tráfico de drogas faz parte de nossa tessitura social em diversas esferas.