Análise espacial e espaço-temporal dos casos de sífilis em gestante e sífilis congênita no Brasil de 2007 a 2020 e as percepções e conhecimento dos profissionais de saúde

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Berger, Aline Zorzim
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/6/6143/tde-03092024-172134/
Resumo: Introdução: A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível causada pelo Treponema pallidum que quando não tratada evolui para estágios de gravidade variada. Apesar dos esforços empreendidos no controle das ISTs, em uma sociedade sexista e com políticas públicas insuficientes, as mulheres enfrentam obstáculos adicionais para a prevenção e tratamento dessas infecções, o que favorece a maior vulnerabilidade delas para aquisição dessas doenças. A sífilis é um exemplo, e seu controle no Brasil e no mundo tem sido um desafio renovado, assim como da sua transmissão vertical. Objetivo: Descrever e analisar a distribuição da sífilis gestacional e congênita no Brasil e o alcance das respostas institucionais, incluindo a perspectiva dos profissionais sobre as rotinas, barreiras e facilitadores destas políticas. Metodologia: esta é uma pesquisa com métodos mistos, incluindo um estudo epidemiológico descritivo e ecológico a respeito das características sociodemográficas, da assistência pré-natal e evolução dos casos de sífilis em gestante e sífilis congênita no Brasil no período de 2007 a 2020. Um segundo componente, qualitativo, consiste em uma análise temática orientada pelo conceito de gênero, baseada em entrevistas com profissionais da saúde sobre as rotinas, barreiras e facilitadores no controle da sífilis congênita. Resultados: Dados do SINAN mostram um aumento consistente da sífilis no Brasil, refletido na taxa de detecção em gestantes, que aumentou mais de 10 vezes, de 2,1 por 1000 nascidos vivos em 2007 para 22,6 em 2020, (mesmo com todas as limitações relacionadas a pandemia, que podem ter implicado em uma redução do acesso à testagem no prénatal). A taxa de incidência da sífilis congênita aumentou de 1,9 em 2007 para 8,0 em 2020, refletindo a relevância da testagem no pré-natal, também na queda da letalidade por sífilis congênita (pelo aumento do denominador com o aumento da detecção dos casos). Há um predomínio nas notificações de mulheres pardas e com baixa escolaridade, apesar de mais de 20% e 28% respectivamente não possuírem estas informações em suas fichas. Das crianças nascidas com sífilis, 98,5% delas tiveram sua notificação antes de completar o primeiro mês. Mais de 80% das mães com bebês notificados com sífilis congênita fizeram pré-natal, no entanto o tratamento do parceiro foi registrado em apenas 16,1% dos casos sendo que 24,9% dos casos não há qualquer registro e em 59,68% dos casos o parceiro não foi tratado. Na etapa qualitativa, os profissionais com frequência atribuem a responsabilidade pela doença às mulheres, alegando o início precoce da vida sexual, o estilo de vida irresponsável, seu envolvimento com homens igualmente irresponsáveis entre outras. Identificam questões de gênero, como a subordinação das mulheres nas relações conjugais, a suposta tendência masculina à promiscuidade, a resistência ao uso da camisinha, a violência por parceiros íntimos, a dependência financeira das mulheres que as deixaria mais vulneráveis quanto às negociações de relações sexuais mais seguras. Conclusões: Os achados reforçam a necessidade de uma atualização das políticas de prevenção e controle da sífilis, pois segundo indicam tanto os dados epidemiológicos quanto as narrativas dos profissionais de saúde, temos perdido o controle desta epidemia, apesar de todos os esforços em termos de políticas públicas. Indicam também a necessidade da sensibilização para as questões de gênero, que se constituem como obstáculos nas ações de saúde, notadamente as dificuldades de discussão sobre sexualidade e violência por parceiro íntimo, com protocolos claros para a atuação dos profissionais e monitoramento dos casos. Isto permitiria ampliar a capacidade dos serviços de responder a este problema que continua se agravando, apesar de termos todos os recursos técnicos (insumos, medicamentos, testes) necessários para o seu controle.