Desastre industrial da Vale em Brumadinho: a prevalência do financeiro sobre a segurança das barragens

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Botelho, Marcos Ribeiro
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/6/6143/tde-26052023-162706/
Resumo: Os desastres industriais com barragens na mineração têm acontecido com frequência no Brasil e no mundo. Podemos destacar o rompimento da Barragem de Rejeitos do Fundão (BRF), operada pela Samarco Mineração S.A., em Mariana/MG, e o rompimento da Barragem de Rejeitos I (B I), na mina do Córrego do Feijão, pertencente à Vale S.A. (VALE),em Brumadinho/MG, o maior desastre industrial do país em número de mortes. Inúmeros relatórios de órgãos públicos e de especialistas, além de artigos científicos, foram elaborados a fim de analisar os dois eventos, mas nenhum deles conseguiu expor toda a complexidade dos mesmos. Alguns aspectos políticos/legislativos, de fiscalização, econômicos e organizacionais foram discutidos, mas nenhum estudo abordou-os profundamente. Esta pesquisa se propõe a analisar esses aspectos dentro dos vários níveis do sistema sociotécnico fazendo uso da análise organizacional de segurança. Fizemos uso de numerosas fontes de informações, como relatórios produzidos por órgãos públicos e por comissões parlamentares de inquérito, áudios, vídeos, transcrições, documentos elaborados pela VALE e por suas empresas consultoras, entrevistas junto a empregados, sindicalistas, revisores de norma técnica, além de obras etnográficas desenvolvidas dentro da empresa. Dentro de uma perspectiva histórica, identificamos como a financeirização da VALE teve papel relevante na cadeia causal do evento. Os sistemas de incentivos financeiros para diretores e gerentes, a redução dos custos operacionais e da dívida líquida da empresa, e o aumento na distribuição de dividendos aos acionistas impactaram nos investimentos para operação, manutenção e fechamento das barragens. O problema não se restringiu apenas à B I, pois 30 estruturas de contenção de rejeitos da VALE foram interditadas após o trágico evento de janeiro de 2019. Fizemos um paralelo entre o desastre da VALE e outros ocorridos na indústria petrolífera, aérea e aeroespacial, onde prevaleceu a cultura da produção. Na VALE, a produção da commodity não podia parar, pois o vagão precisava sair cheio de minério de ferro para o porto. Crenças foram criadas, desvios foram normalizados e as lições aprendidas após Mariana, se aprendidas, foram deixadas de lado. O desastre industrial da VALE em Brumadinho decorreu de decisões político-administrativas, legislativas, financeiras e organizacionais que aparentavam ser boas a curto prazo, mas que não valorizaram os seres humanos e o meio ambiente, e se revelaram desastrosas ao longo do tempo.