Efeito do uso de crack e outras substâncias psicoativas ilícitas em desfechos maternos e perinatais: resultados de uma coorte de nascimento

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Sanchez, Jazmin Andrea Cifuentes
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/17/17145/tde-29072024-092547/
Resumo: Introdução: No Brasil, 55% das gestações não são planejadas, apesar da alta prevalência de uso de anticoncepcionais. Este cenário é ainda pior entre mulheres vulneráveis, como usuárias de substâncias psicoativas ilegais (SPAI). Objetivo: Avaliar o efeito do uso de SPAI no planejamento da gestação, nos desfechos maternos e perinatais de uma coorte de nascimento. Métodos: Trata-se de um estudo transversal inserido em uma coorte de nascimentos. A coorte incluiu dados de todos os nascimentos ocorridos de 1º de janeiro de 2010 a 31 de dezembro de 2010 em Ribeirão Preto, em cinco maternidades públicas e privadas da cidade. Para este estudo incluímos dados de 959 mulheres (992 partos) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HC-FMRP-USP) e 2.319 mulheres (2.321 partos) do Centro de Referência de Saúde da Mulher de Ribeirão Preto - Mater (CRSMRP-Mater). As mulheres foram abordadas imediatamente após o parto por entrevistadores previamente treinados para realizar entrevistas face a face. Além das entrevistas, coletamos dados dos prontuários. Incluímos características sociodemográficas, clinicas e reprodutivas, adesão ao pré-natal, desfechs maternos e perinatais. Utilizou-se o teste Qui-Quadrado para comparar essas variáveis entre usuárias e não usuárias de SPAI, além de uma subanálise entre usuárias e não usuárias de crack. Para avaliar a associação com o uso de SPAI foram realizadas análises de regressão logística simples. As variáveis que apresentaram valor de p < 0,05 na análise univariada foram incluídas no modelo de regressão logística multivariada. Resultados: Em relação ao planejamento da gestação atual, 84% das gestações de usuárias de SPAI foram não planejadas versus 64% das gestações de não usuárias de SPAI (p<0,0001). Em relação às usuárias de crack, 86% das gestações de usuárias de crack foram não planejadas versus 64% das gestações de não usuárias de crack (p=0,02). Em relação às características sociodemográficas, clínicas e reprodutivas, não morar com os filhos [OR ajustado (IC95%): 1,77 (1,10-2,84)], ter a família chefiada pelos pais [OR ajustado: 2,29 (1,03-5,06)] ou outras pessoas [OR ajustado: 3,49 (1,53-7,95)], pertencer à classe socioeconômica D/E [OR ajustado: 2,34 (1,02-5,37)], idade da primeira relação sexual &le; 14 anos [OR ajustado: 3,86 (1,05-14,20)], ter transtorno mental [OR ajustado: 4,69 (1,88-11,71)] e a gravidez atual não ser planejada [OR ajustado: 1,90 (1,06-3,41)] foram associados ao uso de SPAI na gestação. Em relação ao comportamento de adesão ao pré-natal, manter o hábito de ingerir bebidas alcoólicas durante a gravidez [OR ajustado: 1,90 (1,18-3,07)], manter o hábito de fumar durante a gravidez [OR ajustado: 10,40 (6,29-17,20] e não fazer nenhuma consulta ou fazer menos de 6 consultas [OR ajustado: 3,53 (1,95 - 6,27)] foram associados ao uso de SPAI na gestação. Em relação aos desfechos maternos, ter uma gravidez de risco [OR ajustado: 22,54 (7,12-71,33)], ter IST durante a gravidez atual [OR ajustado: 2,92 (1,49-5,72)] e ter complicações no pós-parto [OR ajustado: 2,22 (1,21-4,07)] foram associados ao uso de SPAI na gestação. Em relação aos desfechos perinatais, admissão do RN na UTI [OR ajustado: 1,67(1,03-2,72)] e RN com comprimento inferior a 50 centímetros [OR ajustado: 2,25 (1,34-3,77)] foram associados a usar SPAI na gestação atual. Conclusões: Mais de 80% das usuárias de SPAI não planejaram a gravidez e o uso de SPAI foi associado a comportamentos de má-adesão ao pré-natal, desfechos maternos e perinatais desfavoráveis. Considerando as altas taxas de gravidez não planejada e seus desfechos desfavoráveis é necessário a elaboração de estratégias para facilitar o acesso e uso de métodos contraceptivos entre esta população como parte da estratégia de redução de danos.