O aluno-problema e o governo da alma: uma abordagem foucaultiana

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2009
Autor(a) principal: Rito, Marcelo
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-11122009-105400/
Resumo: Nesse trabalho, o tema do fracasso escolar sofre uma abordagem foucaultiana. Ele é analisado a partir dos efeitos de poder que produz. O referencial teórico impõe à pesquisa a busca por enunciados proferidos por personagens sociais capazes de conduzir condutas de outrem. O corpo documental coletado refere-se a laudos de avaliações aplicadas por clínicas de atendimento psicopedagógico de viés notadamente psiquiátrico. Sobre essa base empírica, especula-se que as similitudes entre os diversos relatórios insinuam a instalação de um regime de verdade em torno de um sujeito, qual seja: o aluno transtornado. Destrinchando a lógica discursiva dessas avaliações diagnósticas, a dissertação sugere que o escolar deficitário produzido por essas testagens é uma recorrência do pregresso aluno-problema constituído pelas narrativas de Artur Ramos na década de trinta do século XX. Supõe-se que as aproximações entre o transtornado dos laudos e o problemático de Artur Ramos apontam para técnicas de governo aplicadas com fito a disciplinar educandos. Decorre dessa suposição a análise a respeito do mecanismo pelo qual opera a dita governamentalidade. Nesse percurso, aventa-se que ela instiga a práticas de auto-governo. Tais ações são escavadas em textos historiográficos dedicados a estudar a conexão entre as medidas estatais dirigidas à população e as intervenções públicas voltadas aos corpos dos indivíduos. A hipótese desse trabalho alega que os saberes psi tiveram suma importância para viabilizar a efetiva transferência dos ideais de normalidade chancelados pelo Estado nos comportamentos dos indivíduos. Considera-se, atualmente, que tais saberes tornaram-se fundamentais, pois permitem a sondagem da alma e, por conseguinte, a condução das interioridades com base na norma aferida nos exames aplicados pelos biotécnicos. Nesse grupo social detecta-se, com base nas pesquisas de Lucien Sfez sobre a biotecnologia na contemporaneidade, a imersão de muitos de seus agentes em uma nova utopia definida pelo autor como uma Utopia da Saúde Perfeita. Nela comparecem definições que apontam para a formação de bioidentidades. Estas operariam no sentido de atrelar cada qual a seu corpo. Assim fazendo, tais verdades produzidas no ambiente laboratorial viabilizariam a redução da vida a um fato biológico. A pesquisa que aqui se sintetiza visa, por fim, atrelar os saberes performativos do aluno-problema às estratégias da biopolítica. Assim, imagina-se a escola como espaço privilegiado para a disseminação de agentes biopolíticos, ou seja, atores competentes para aplicar técnicas de governo sobre todo o alunado por meio da promoção da livre busca pelas interioridades auto-governáveis.