Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2019 |
Autor(a) principal: |
Oliveira, Maria Carolina Baggio Zanetti Nucci de |
Orientador(a): |
Não Informado pela instituição |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Dissertação
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Link de acesso: |
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/12/12139/tde-02122019-170225/
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Resumo: |
Nesta dissertação buscamos compreender como as relações de gênero impactam a carreira. Para investigar tal questão, nos perguntamos: como as pessoas transgêneras negociam com as relações de gênero em suas carreiras? No Brasil e no mundo, pessoas transgêneras encontram resistências por desafiarem a cisnormatividade, o conjunto de discursos que postula que o gênero de uma pessoa é determinado por seu corpo-sexo, produzindo as continuidades vagina-fêmea-mulher-feminilidade e pênis-macho-homem-masculinidade. Essas resistências também acontecem no âmbito do trabalho, traduzindo-se em dificuldades de ingressar e permanecer no mercado de trabalho formal. Buscando enxergar o processo de negociação, olhamos para a carreira, ou seja, essas experiências de trabalho no tempo e no espaço social. Assim, lançamos mão de narrativas de vida, pois é um método que permite à pessoa recontar suas vivências ao longo do tempo, contextualizando-as na história. Para produzir essas narrativas, optamos pelas histórias orais, obtidas em entrevistas em profundidade com onze pessoas transgêneras escolhidas propositalmente. Complementamos as entrevistas com observações de campo. A análise e a exibição das narrativas seguiram dois métodos diferentes: primeiramente, exibimos um resumo de cada uma das narrativas de vida, complementado com uma linha do tempo. Depois, elaboramos a análise entre as narrativas a partir dos métodos de codificação teórica e comparação constante da grounded theory. Desta última, derivamos algumas conclusões. As pessoas transgêneras podem estar em dois estados possíveis perante o mercado de trabalho: \"nem tubarão nem sereia\" (quando a pessoa não é reconhecida por outras como um homem cisgênero ou uma mulher cisgênera) ou passável (quando é reconhecida por outras pessoas como uma pessoa cisgênera do gênero com que se identifica). Quando está no estado em que não é passável, a pessoa sofre diversas violências e enfrenta inúmeras dificuldades para ingressar e concluir os ensinos básico e superior, para arrumar trabalho e para crescer nas organizações. Contudo, também podem receber apoios na família, em grupos e coletivos e até mesmo no trabalho, que mitigam essas violências e dificuldades. Com esse cenário em vista, as pessoas participantes adotam uma de duas estratégias: ou elas \"fazem a linha\" - quando se expressam de forma congruente com o gênero que lhe foi designado ao nascer -, ou jogam a real sobre sua transgeneridade. Em geral, \"fazer a linha\" permite que as pessoas tenham carreiras menos descontinuadas. Jogar a real, por outro lado, é um movimento arriscado, exceto quando feito no mercado da diversidade - o nome que demos para um conjunto de organizações composto por (a) organizações de e para pessoas LGBT+, (b) empresas que trabalham com a questão da diversidade e inclusão, e (c) participação em iniciativas internas ou externas de empresas. Passar-se é, como vimos, um estado, mas também uma estratégia. Ao passar, as pessoas participantes deixam de sofrer violências transfóbicas, mas continuam suscetíveis ao sexismo. No entanto, passar-se não é simples, e envolve também questões de raça e classe social. Por fim, trazemos algumas recomendações das pessoas participantes para outras pessoas transgêneras seguindo suas carreiras, e algumas recomendações para pessoas cisgêneras leitoras. |