Escrita de memórias em Eliete, a Vida Normal, de Dulce Maria Cardoso: análise da construção da identidade feminina na sociedade patriarcal

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Bonchristiano, Ana Cristina Ribeiro
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8150/tde-27032024-155511/
Resumo: Esta dissertação apresenta uma leitura da obra Eliete, a Vida Normal, de Dulce Maria Cardoso, especulando a força da memória na escrita pelo monólogo da narradora, em primeira pessoa, para observar a construção da identidade feminina em uma sociedade patriarcal e a busca por sua emancipação. A protagonista, Eliete, casada há vinte anos, narra suas memórias entrecortadas por pensamentos, ideias e diálogos com outras mulheres, dentre as quais sua avó paterna, sua mãe e suas duas filhas, além de alguns homens. O pano de fundo da ficção é a história de Portugal, país europeu periférico com contradições, arcaico e moderno, nos séculos XX e XXI. Nesta análise da obra de ficção de autoria feminina contemporânea, foram usados quatro eixos: a história de Portugal e a memória como pano de fundo da elaboração da escrita; o sentido e o significado da história e da ficção na construção da linguagem literária e do inconsciente coletivo; a busca de uma identidade perdida e a necessidade de criar identidade pela qual o sujeito se constitui e se transforma; e a fragmentação das relações sociais e familiares. Por meio destas abordagens, procuramos apontar e explicar os mecanismos estruturais da sociedade patriarcal e colonialista, pelos quais a vida das mulheres é atravessada por violências e exigências desde a infância, passando pela ditadura da beleza do corpo, com imposição de uma estética de magreza, e a colonização da mente, com a introjeção de valores ditados pelo sistema neoliberal. O objetivo principal deste trabalho foi analisar o romance Eliete, a Vida Normal, sob perspectivas históricas, literárias e psicanalíticas, buscando interpretar as passagens da narrativa para desvendar a representação do mundo narrado pela protagonista. A solidão e a incomunicabilidade da protagonista, Eliete, assim como a alternativa de adultério, diante da monotonia e do tédio do seu casamento de mais de vinte anos, associadas à busca de identidade da mulher portuguesa, na sociedade patriarcal e colonialista do século XX, marcada pela ditadura militar (1926-1933) e pelo Estado Novo de Salazar (1933-1974), foram alguns dos dilemas apresentados. Ouvimos questionamentos sobre o sujeito do desejo, a sexualidade, o corpo feminino, o trabalho, os relacionamentos afetivos e sexuais, a maternidade, o casamento, a fidelidade, o aprisionamento e a emancipação das mulheres, assim como a competição, a inveja, a aliança, a solidariedade entre as mulheres (sororidade) ou a sua falta