A traição nas canções de gesta e o fortalecimento da monarquia capetíngia: França, 1180-1328

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2016
Autor(a) principal: Arias, Ademir Aparecido de Moraes
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-11082016-160211/
Resumo: A traição é um tema que temos estudado já faz algum tempo, utilizando como fontes as Canções de Gesta, um gênero literário poético corrente nas regiões que compunham o reino da França, entre o século XI e o século XV. O período áureo dessa poesia coincidiu com o governo da dinastia conhecida como dos Capetos diretos, cujo reinado e sucessão de pai para filho persistiu sem interrupção de 987 até 1328. Criadas e difundidas nos diversos senhorios territoriais da França, em especial no norte do reino, as Canções de Gesta tratavam em seus enredos de vários problemas de ordem moral e política vigentes na época. Em uma sociedade cuja coesão, ao menos na sua camada governante, era baseada na fidelidade e na criação de laços vassálicos, a traição constituía uma grave ameaça à estabilidade e à paz. Tanto a moral cristã quanto a moral cavaleiresca condenavam quem a praticasse, mas isso não evitou a sua constante ocorrência. Estudamos cinco poemas épicos: a Chanson de Roland (c. 1100), o Girart de Vienne (1180-1185), o Renaut de Montauban (início do século XIII), o Gaydon (1230- 1240) e o Jehan de Lançon (metade do século XIII). O Roland, sendo o mais antigo desses poemas, apresenta um monarca respeitado e difere dos poemas posteriores, cujos enredos valorizam os personagens conhecidos desde o século XIX como Vassalos Rebeldes. Da análise da traição nessa poesia e da relação entre vassalos e o rei pudemos extrair alguns pontos importantes. De início o ligado à questão vocabular, pois traïson / traïtre / traïr designam um dos mais graves crimes ali descritos, graças a sua ligação com a tradição neotestamentária da entrega de Jesus por Judas Iscariotis, suplantando outros termos de origem latina ou não (proditio, felonie). Nas Canções, a traição é dirigida primeiramente contra os barões e cavaleiros sendo os seus executores da mesma condição social de suas vítimas. Só tardiamente ela denomina um atentado contra o monarca. Outro ponto é a defesa, nos poemas, do direito à guerra ao senhor caso este não cumprisse suas obrigações de justiça para com seu vassalo. Assim, os heróis em luta contra Carlos Magno não eram mostrados pelo poeta como traidores e sim como vítimas de uma perseguição. Esses cavaleiros conservavam o respeito pelo seu senhor e aspiravam ser perdoados e reintegrados à corte régia. A responsabilidade pelas traições era direcionada para uma linhagem específica, a de Ganelon, responsável pelo desastre de Roncesvales na Chanson de Roland. Mas se aqui a traição fora um crime individual, desde fim do século XII há um trabalho de readaptação no qual o fato de se pertencer a essa família já tornava o personagem passível de ser um traidor. As suas traições podiam ir da falsa acusação até ao envenenamento de outros personagens. A prova da traição se dava frequentemente através do duelo judicial e os culpados, além de condenados à morte, podiam ter os corpos destruídos para evitar a ressurreição no final dos tempos.