Trabalhadores adolescentes do sexo masculino: família, trabalho, escola, violência

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2006
Autor(a) principal: Watarai, Felipe
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59137/tde-07022007-162314/
Resumo: Este projeto de pesquisa teve como objetivo examinar as formas de sociabilidade que adolescentes do sexo masculino vivem na família, no trabalho e na escola e o modo como convivem com a violência presente nos bairros onde residem. Procurou-se ainda examinar quais os projetos de vida que os adolescentes organizam para o futuro, considerando a precariedade das condições materiais em que vivem. Os sujeitos da pesquisa foram dez adolescentes do sexo masculino, na faixa etária entre 16 e 18 anos incompletos, freqüentando o ensino médio em uma escola pública estadual no período noturno, inseridos no mercado de trabalho, de modo formal ou informal, e integrantes de famílias de camadas populares de Ribeirão Preto/SP. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas individuais, gravadas e transcritas na íntegra, com roteiro temático elaborado a partir dos diversos aspectos que a pesquisa pretendia examinar. Outro instrumento utilizado para a coleta de dados foi o registro em diário de campo de observações resultantes do contato com os sujeitos em algumas situações na escola e durante as entrevistas. A análise dos dados foi realizada utilizando os referenciais teóricos da antropologia. Os resultados mostraram que os relacionamentos estabelecidos pelos sujeitos com os diferentes ambientes socializatórios tendiam a incutir neles valores como o envolvimento com o trabalho e a honestidade. Nas relações com as famílias, especialmente com os pais, esses valores foram transmitidos tanto por meio de conselhos e orientações mais diretas quanto por modelos de conduta que eram oferecidos como exemplos parentais a serem seguidos pelos filhos. O ingresso no mercado de trabalho, mesmo que não tenha sido totalmente uma resolução dos pais, foi aprovado e encorajado por eles. Por outro lado, os sujeitos inclinavam-se a atribuir esse ingresso mais a uma busca por maior maturidade e autonomia em relação aos genitores. Mesmo que seja uma maturidade relativa e parcial, os sujeitos consideraram que deixaram de ser ?moleques? desde que começaram a trabalhar. A identidade de trabalhador que suas ocupações lhes conferiram se sobrepõe às demais, como a de estudante. Assim, justificaram a freqüência à escola mais ao desejo de conseguirem melhores empregos por meio da escolarização de ensino médio. A indisciplina escolar, considerada comportamento infantil, e a prática de crimes e delitos não foram avaliados como condutas condizentes com a identidade que procuravam estabelecer. Os relacionamentos com os pares, dentro e fora da escola, também foram organizados a partir da identidade de trabalhador, uma vez que os sujeitos procuravam diferenciar-se de alunos indisciplinados, de pessoas que faziam uso de drogas, ou que supunham ter envolvimento com a criminalidade. A violência que os sujeitos descreveram é relacionada à criminalidade urbana, que além dos riscos concretos que pode trazer, também é passível de contaminar a identidade dos sujeitos, que compartilhavam, nos bairros em que viviam, os mesmos espaços com criminosos. A pobreza pode conferir uma identidade negativa aos sujeitos, tanto pela precariedade material que ela acarreta para suas condições de vida, quanto pela exposição à violência, igualando trabalhadores pobres e bandidos. Em seus projetos para o futuro, os sujeitos expressaram o desejo de conquistar condições de vida mais tranqüilas, menos sujeitas à instabilidade que as atuais, marcadas pela pobreza. Por outro lado, essa instabilidade pode também ser atribuída à adolescência, fase na qual os sujeitos viviam, quando os projetos de futuro ainda não eram percebidos de modo claro e o presente podia ser visto como algo transitório.