Resumo: |
Introdução: o Transtorno do jogo (TJ), anteriormente classificado como transtorno do controle do impulso, está classificado hoje, no DSM-5, entre as dependências, sendo a primeira vez que se reconhece outro comportamento (apostar), além do uso de substância, como uma dependência. Evidências apontam melhoras relevantes no funcionamento físico e psicológico propiciadas pela atividade física. É desconhecido, entretanto, se um programa de exercícios físicos pode ser útil no tratamento do transtorno do jogo (TJ), devido à falta de estudos, ao tamanho reduzido das amostras e à falta de grupo controle. Objetivo: abordar essas lacunas empíricas através da realização de um ensaio clínico controlado e randomizado com um programa de exercício físico aeróbico comparado a um grupo controle ativo (alongamento), em acréscimo ao tratamento usual para TJ, para avaliação dos efeitos do exercício aeróbico nas comorbidades psiquiátricas, na impulsividade e no comportamento de jogo. Metodologia: 59 participantes com diagnóstico confirmado de TJ em início de tratamento foram designados, aleatoriamente, para uma, de duas possibilidades: grupo experimental (GE, n=32), com oito semanas de exercício físico, duas sessões de 50 minutos, cada (10 minutos de alongamento, mais 40 minutos de exercício aeróbico com intensidade moderada a intensa, ou seja, 70 a 85% da frequência cardíaca máxima estimada para a idade); ou grupo controle (GC, n=27), com sessões de alongamento de 50 minutos, duas vezes por semana, pelo mesmo período. Teste de Cooper e monitores de frequência cardíaca foram utilizados para garantir que os participantes do GE cumprissem a frequência cardíaca alvo. Avaliadores cegos ao tipo de intervenção designada analisaram os participantes, antes e depois da intervenção. O tratamento com psicoterapia e uso de medicações psiquiátricas, durante a intervenção, foram registrados para o controle estatístico. Resultados: foram observadas reduções significativas na frequência de depressão e nas comorbidades psiquiátricas em geral, em ambos os grupos, após a intervenção. O GE apresentou uma redução mais significativa das comorbidades psiquiátricas, quando comparado ao GC (razão de chances = 3,3; p=0,036), está diferença permaneceu significativa quando foi avaliado o subgrupo de indivíduos que realizaram apenas a intervenção física sem psicoterapia simultânea (n=42; razão de chances = 4,8; p=0,030). Não houve diferenças significativas entre os grupos, no uso de medicação psiquiátrica. Ambos os grupos também melhoraram, em relação à impulsividade avaliada em testagem neuropsicológica (controle inibitório e planejamento), mas não na impulsividade avaliada por autorrelato. As variáveis relacionadas ao jogo, ou seja, às apostas, prejuízo de socialização, desgaste emocional, e financeiro, e a \"fissura\" sofreram todas redução significativa ao final da intervenção, porém sem diferença entre GE e GC. Conclusão: um programa de exercício aeróbico tem um efeito significativo na redução das comorbidades psiquiátricas associadas em portadores de TJ, em tratamento. Este efeito mostrou-se independente da psicoterapia e da medicação. Portanto, o exercício físico pode ser um complemento valioso para o tratamento do TJ, por ser acessível, além de ser uma alternativa aos medicamentos psiquiátricos, ajudando as pessoas que sofrem com TJ a viverem com uma melhor qualidade de vida |
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