A Psicanálise na ditadura civil-militar brasileira (1964-1985): história, clínica e política

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Lima, Rafael Alves
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47133/tde-12082021-220350/
Resumo: O objetivo do presente trabalho é reconstituir a história da psicanálise no Brasil durante o período ditatorial entre 1964 e 1985. Para tal, foram construídos expedientes metodológicos inspirados na obra de Bourdieu, Wright Mills e na abordagem prosopográfica. A partir deles são organizados dois pares de eixos, as rotas filiatórias e as rotas migratórias, que por sua vez sistematizaram a diferenciação entre iniciativas pontuais de psicanalistas e movimentos psicanalíticos, visando compreender como se portaram os movimentos psicanalíticos nacionais em termos de autonomia relativa em relação às injunções do Estado ditatorial. A grande maioria das fontes primárias consultadas é oriunda de três plataformas de arquivos distintas, o portal Memórias Reveladas, o Arquivo Público do Estado de São Paulo e o portal Hemeroteca. Pela qualidade dos arquivos, foi proposto ainda um entendimento geral acerca da política do segredo em história da psicanálise. Parte-se do pressuposto do autoritarismo de crise no golpe militar de 1964, configurando a aliança de ocasião com setores liberais da sociedade civil. Os movimentos oficiais respondem pela via da criação do que foi denominado de mito nacional do pedigree, presente enquanto modalidade historiográfica singular e enquanto fundação de recursos editoriais de estabilização de conceitos e práticas. Com o endurecimento do regime militar nos últimos anos da década de 1960, há uma redistribuição do jogo de forças, cuja resposta intelectual das resistências à ditadura ligadas à psicanálise se assentam no freudo-marxismo de um lado e, de outro, o alinhamento oficialista das práticas e conceitos sob a égide da ética da maturidade. Devido à infiltração do argumento ideológico da guerra psicológica, o campo se descaracteriza em chave heterônoma, sob o paradoxo do processo de grande popularização do freudismo a que se denomina boom da psicanálise. Da segunda metade dos anos 1970 em diante, quando o regime ensaia a distensão e inclui o horizonte da transição democrática, consolida-se tanto o milagre da multiplicação legítima dos processos instituintes dos movimentos psicanalíticos quanto uma biblioteca crítica psicanalítica, responsáveis clínica e intelectualmente pela quebra da hegemonia ipeísta no Brasil. Por fim, conclui-se que a ditadura civil-militar brasileira impôs aos movimentos psicanalíticos um processamento heterônomo de consolidação e expansão no país, cuja história de distorções de fronteiras entre espaços civis e militares gerou colaborações e resistências. Essa história, portanto, reafirma o compromisso irrestrito da psicanálise com o horizonte político da democracia para que se possa falar em agendas clínicas e intelectuais em termos de autonomia relativa