Anarquizar sons e fluxos: movimentações em torno das práticas de improvisação musical livre

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Gomes, Stênio Ramalho Biazon
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27158/tde-17112023-121314/
Resumo: A pesquisa analisa movimentações e núcleos que teriam favorecido a emergência das práticas musicais que vieram a ser conhecidas como improvisação livre. Estuda-se aqui múltiplas práticas que teriam operado encontros entre experimentação sonora (a significativa expansão do que se entende por som musical) e fluxo indefinido (a recusa ou subtração dos roteiros e predeterminações acerca do desdobramento da música). Indaga-se, contudo, qual o alcance destas liberações uma vez que, de certa forma, elas se restringem à música enquanto mera abstração sonora. Assim, a prática-conceito improvisação livre se caracterizaria por, apesar de liberar sons e fluxos, manter intactos alguns preceitos que acompanham o fazer musical majoritário do ambiente de concerto ocidental (realizando poucas experimentações envolvendo o corpo de quem performa, a relação artista-público, a relação com o espaço e os rituais de fruição). Com isso, procura-se distinguir práticas de improvisação que operam liberações na música abstração daquelas que radicalizam e experimentam expandir o fazer musical, num sentido mais amplo. O trabalho é apresentado num formato experimental, um fichário que reúne 7 zines (espécies de revistas não-comerciais, impressas com recursos de baixo custo e que circulam, sem direitos autorais, via fotocópia). As zines são agrupadas, no fichário, em 3 folhasbolsos, oferecendo múltiplos percursos de leitura, parcialmente lineares. 4 das zines expõem análises mais adensadas em torno de núcleos de práticas musicais, relacionando-se a localidades (de diferentes amplitudes) e períodos (anos), conforme os seguintes subtítulos: brasil décadas de 1960 e 1970, califórnia 1957-65, londres 1964-72, roma 1964-70. A zine com função mais conclusiva procura recobrir também outras práticas assemelhadas à improvisação livre, comentando em linhas gerais as primeiras décadas do século XX e discutindo mais intensamente as décadas de 1950 e 1960, com foco em localidades diversas dos EUA e Europa. Cada uma das zines foi redigida ainda com o intuito de ser lida e difundida separadamente. São tomados conceitos musicais e perspectivas analíticas em música de artistas-pesquisadores como Edgar Varése, George Lewis, John Cage, Rogério Costa, Silvio Ferraz e Tatiana Catanzaro. O trabalho parte também de uma perspectiva anarquista, isto é, interessada em anarquizar relações, no caso, ligadas tanto ao fazer musical quanto às experiências que o circundam. Propõe-se aqui que a realização de experimentações coletivas em público seria uma das radicalizações operadas pela improvisação livre, em relação a outras práticas musicais. A dissolução do que se entende por público e privado, em múltiplos sentidos, norteia boa parte das discussões do trabalho, depreendendo inquietações de Edson Passetti, Michel Foucault e Max Stirner. Preza-se assim pela experimentação de liberdades no presente, atentando-se aos atravessamentos entre lutas e prazeres. São analisadas e comentadas, em variados adensamentos, práticas e propostas de artistas e grupos diversos/as, tais quais: Art Ensemble Chicago, AMM, Cornelius Cardew, Edgar Varése, Hermeto Pascoal, Jocy de Oliveira, Jorge Antunes, Marcel Duchamp, Musica Elettronica Viva, Música Nova, Naná Vasconcelos, Pauline Oliveros, Walter Smetak, entre outros. A pesquisa tem como materiais ilustrativos playlists virtuais e diagramas que operam como linhas do tempo.