O “público-alvo” nos bastidores da política : um estudo sobre o cotidiano de crianças e adolescentes que participam de projetos sociais esportivos

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2010
Autor(a) principal: Thomassim, Luís Eduardo Cunha
Orientador(a): Stigger, Marco Paulo
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/168844
Resumo: No contexto urbano no qual este estudo se realizou, na cidade de Porto Alegre (Brasil), o cotidiano das crianças e adolescentes que vivem em bairros populares é marcado pela oferta de programações esportivas, culturais e educacionais por parte de instituições sociais. Estas ações teriam por motivação propiciar espaços de “proteção social” e “vivências socializadoras” alternativos e complementares às atividades escolares regulares. Por um lado, essa mobilização de atores em torno de projetos sociais de esporte, cultura e lazer, é revelador de limites no modelo de escolarização destinado às crianças das classes populares. Por outro lado, esse cenário reflete a lógica dominante nas chamadas políticas sociais, na qual se combinam três aspectos: as instituições civis são envolvidas na execução de políticas, a focalização das ações em determinados grupos sociais e a visão salvacionista de algumas práticas culturais, como o esporte, a música e as artes. Soma-se a esta s questões, uma abordagem pública fortemente moralizante sobre a vida das crianças pobres e suas famílias. Sobre esta realidade, muito se tem produzido academicamente. Nesta pesquisa, no entanto, tomamos esse quadro como a conjuntura na qual as crianças e adolescentes exercem uma experiência significativa de participação na vida social. Através de um trabalho etnográfico de dois anos, realizado com crianças e adolescentes em idade escolar de uma vila popular da cidade de Porto Alegre, buscou-se conhecer o sentido que as crianças e adolescentes atribuem às programações que freqüentam e, a partir disso, discutir qual o lugar – simbólico e prático – que este vínculo ocupa em seu cotidiano. Para tal, o trabalho etnográfico voltou-se a buscar dados nas familiares das crianças, em suas relações de vizinhança e em suas experiências nas programações. Analiticamente, procurou-se suporte teórico em trabalhos etnográficos com grupos populares e nos estudos com - e sobre - crianças, produzidos no campo das ciências sociais. Procurou-se dar conta de uma abordagem relacional e interpretativa do objeto proposto. Assim, as experiências das crianças nos projetos sociais são apresentadas como formas de participação ativa nas relações sociais. Os sentidos de seus envolvimentos podem ser entendidos em torno de quatro dimensões de significados distintos, embora complementares: 1) como demandas relacionadas às condições de sobrevivência; 2) como interesse em ampliação e aprofundamento de vivências esportivas; 3) como formas de manterem-se vinculados a grupos de amizades; 4) como investimento em aquisições para o futuro. Por fim, destaca-se que, embora o número de crianças e adolescentes atingidos por estes projetos seja reduzido, comparado ao total de crianças do bairro, foi possível identificar uma repercussão simbólica das programações no contexto da vila, que extrapola o universo daqueles sujeitos que delas participam. Neste sentido, chama-se atenção para um tipo de “participação itinerante” das crianças e adolescentes nas programações esportivas, na medida em que ocorre um freqüente revezamento na oferta das atividades e também de seus participantes. Por sua vez, esta forma de participação social está diretamente vinculada ao que foi denominado de uma experiência particular de infância. Uma experiência social onde as crianças da vila pesquisada experimentam uma visibilidade pública específica, na qual são tomadas como público-alvo prioritário de projetos sociais, acompanhada de uma invisibilidade das condições sociais desiguais que produzem a pobreza. O estudo aponta ainda que os sentidos atribuídos pelas crianças e seus familiares às ações sociais, impõem 7 circunstâncias e desafios concretos tanto para as políticas públicas de esporte e como as de proteção à infância.