Ganho de peso, alterações metabólicas e mortalidade em pacientes com transtornos mentais graves : evidências de estudos longitudinais do Brasil e da Holanda

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Burin, Luísa Monteiro
Orientador(a): Rocha, Neusa Sica da
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/278565
Resumo: Introdução: Indivíduos com transtorno mental grave têm maiores taxas de mortalidade e morrem 10 a 20 anos mais cedo do que a população em geral. A maioria morre devido a causas naturais, sendo doença cardiovascular a principal causa de óbito. Apesar disso, as causas dessa disparidade ainda não são bem explicadas. Esses indivíduos também têm maior risco de desenvolver sobrepeso e obesidade, comparado com a população em geral. As consequências do sobrepeso e da obesidade são diversas, sendo fatores de risco maiores para doenças cardiovasculares, diabetes e vários tipos de cânceres. Além disso, indivíduos com transtorno mental grave apresentam maiores taxas de síndrome metabólica, que está associada a maior risco de eventos cardiovasculares e diabetes tipo 2. As causas para obesidade e alterações metabólicas em pacientes com transtorno mental grave são multifatoriais. Entre elas estão fatores genéticos, comportamentais, como estilo de vida com hábitos alimentares não saudáveis e sedentarismo, e o próprio tratamento do transtorno psiquiátrico. Medicamentos psicotrópicos estão associados ao aumento de peso, principalmente os antipsicóticos. Esses pacientes têm sintomatologia complexa e resistente, o que, muitas vezes, resulta em um tratamento com múltiplos psicofármacos. Poucos estudos exploraram o impacto da associação entre antipsicóticos e outras classes de psicotrópicos no ganho de peso. Objetivos: Objetivo geral: avaliar a relação entre ganho de peso e alterações metabólicas, bem como de fatores relacionados ao transtorno psiquiátrico e variáveis sociodemográficas, com a mortalidade em pacientes com transtorno mental grave. Objetivos específicos: (1) avaliar ganho de peso em pacientes com transtorno psicótico em uso de apenas antipsicóticos comparados a pacientes em uso de antipsicóticos associado a outros psicotrópicos em tratamento de longo prazo; e (2) avaliar a relação entre síndrome metabólica e parâmetros metabólicos individuais, variáveis relacionadas ao próprio transtorno psiquiátrico e variáveis sociodemográficas com mortalidade em pacientes com transtorno mental grave em um período de 10 anos após sua admissão em uma internação psiquiátrica. Métodos: Esta tese avaliou duas populações diferentes para responder aos objetivos. Para o artigo 1, foi feito um estudo de coorte retrospectivo no qual pacientes com transtorno psicótico não-afetivo do estudo GROUP (estudo realizado na Holanda) foram divididos em três grupos: grupo usando apenas antipsicóticos; grupo usando antipsicóticos em combinação com outros psicotrópicos; e grupo sem medicação. A mudança de peso em um intervalo de 3 anos foi avaliada através de teste t para amostras pareadas. Regressão linear foi realizada para avaliar a associação entre covariáveis e peso. Para o artigo 2, foi feito um estudo longitudinal que avaliou pacientes com transtorno mental grave internados em uma unidade psiquiátrica de um hospital terciário no Brasil. Eles foram seguidos 10 anos após a alta hospitalar. O desfecho primário avaliado foi óbito. Os fatores de risco foram glicemia de jejum; hemoglobina glicada; triglicerídeos; colesterol HDL; pressão arterial; diagnóstico de síndrome metabólica; gravidade da doença (de acordo com a escala CGI); psicopatologia geral (de acordo com a escala BPRS); e funcionamento geral (de acordo com a escala GAF). As covariáveis foram gênero, idade, nível socioeconômico, nível educacional, uso de tabaco, diagnóstico psiquiátrico e medicamentos em uso. Para avaliar a associação entre fatores de risco, covariáveis e desfecho, foi utilizada regressão de risco competitivo. Resultados: Os principais resultados do artigo 1 foram: pacientes usando apenas antipsicóticos [média = 1,800 kg, t(99)=2,849, IC 95%(0,546, 3,054), p = 0,005] e usando combinação de antipsicóticos com outros psicofármacos [média = 1,877 kg, t(72)=2,688, 95% IC(0,485, 3,268), p = 0,009] tiveram ganho de peso significativo no tratamento de longo prazo. Os pacientes que usaram clozapina, olanzapina ou quetiapina apresentaram ganho de peso significativo em comparação com aqueles que não usaram esses medicamentos [diferença média=1,707 kg, t(271)= 2,061, IC 95%(0,077, 3,337), p = 0,040)]. Os principais resultados do artigo 2 foram: 21,2% da amostra foi a óbito após 10 anos de seguimento. A principal causa de óbito foi doença cardiovascular (20,2%). A análise univariada mostrou que idade mais avançada; menor nível educacional; pontuações mais altas na BPRS; pontuações mais baixas na GAF; pontuações mais altas no CGI; diagnóstico de síndrome metabólica; e pressão arterial sistólica mais elevada foram associadas a maior risco de mortalidade. As variáveis que permaneceram associadas à mortalidade na análise multivariada foram idade mais avançada [HR=1,07, IC 95% 1,04-1,09, p<0,001] e menor nível educacional [HR=0,94, IC 95% 0,89- 1,00, p=0,049]. Conclusão: Artigo 1: Pacientes que receberam apenas antipsicóticos ou antipsicóticos combinado com outros psicotrópicos seguem ganhando peso durante o tratamento de longo prazo. É possível que o ganho de peso seja impulsionado principalmente pelo uso de antipsicóticos. Artigo 2: O estudo não encontrou associação entre parâmetros metabólicos e mortalidade em pacientes com transtorno mental grave na análise multivariada. Também não foi encontrada associação entre os escores BPRS, CGI e GAF e mortalidade na análise multivariada. Idade mais avançada e menor nível educacional foram as únicas variáveis associadas ao maior risco de mortalidade na análise multivariada. Mortalidade em transtorno mental severo envolve múltiplas variáveis. Doença cardiovascular é a principal causa de óbito nesses pacientes. Estudos que explorem o continuum ganho de peso, alterações metabólicas, eventos cardiovasculares e óbito são necessários para medidas preventivas mais eficazes.