Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2024 |
Autor(a) principal: |
Dalmaso-Junqueira, Bruna |
Orientador(a): |
Gandin, Luis Armando |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Não Informado pela instituição
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Palavras-chave em Inglês: |
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Palavras-chave em Espanhol: |
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Link de acesso: |
http://hdl.handle.net/10183/274050
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Resumo: |
Esta tese investiga a criação de pedagogias feministas por docentes da educação básica brasileira em um contexto social de modernização conservadora. A partir de referenciais dos estudos educacionais críticos e dos estudos feministas, de mulheres e de gênero, o desenvolvimento de práticas educativas feministas é interpretado como iniciativa contra-hegemônica de resistência e desobediência feminista a um crescente movimento de cunho conservador e neoliberal. Constituindo coalizões contingenciais de grupos hegemônicos diversos e contraditórios, a promoção da modernização conservadora pode ser identificada na crescente perseguição a direitos constitucionais de igualdade e na promoção de políticas e práticas educacionais excludentes, individualistas, de cunho patriarcal, cis-heteronormativo e racista. No Brasil, desde os anos 2010, esse movimento em muito tem-se manifestado a partir de uma agenda “antigênero” e “antifeminista”. Construindo uma perspectiva epistemológica feminista crítica, esta pesquisa foi desenvolvida fazendo uso dos procedimentos metodológicos de formulários virtuais via método de amostragem por bola de neve com 107 docentes vinculadas/os/es a escolas da educação básica brasileira desejosas/os/es de compartilhar práticas pedagógicas feministas que desenvolveram em seus contextos escolares. Seis das/es/os participantes também foram ouvidas/es/os com o instrumento de entrevistas semiestruturadas. Utilizou-se a ferramenta da Análise Relacional e a da Análise Temática para o desenvolvimento analítico. Muitas das práticas surgem em resposta à ausência do Estado nas garantias constitucionais. Docentes atentas/os/es têm criado práticas educativas que respondem a desigualdades manifestas em seus espaços escolares, desempenhando o papel da reparação feminista. É notável a predominância de temáticas socialmente “palatáveis”, tais como aulas sobre as contribuições das mulheres à sociedade e à percepção da desigualdade de gênero. Embora fundamentais à formação cidadã e feminista, tais temas ofuscam, em alguma medida, debates mais controversos e invisibilizados, tais como a educação sexual e o antirracismo. Embora haja uma tímida, mas promissora adesão a perspectivas diversas (negras, trans e anticapitalistas), principalmente lideradas por professoras negras, 80% dos relatos recebidos não abordam o debate antirracista como parte das práticas feministas. Cerca de 98% não mencionam deficiências ou a perspectiva anticapacitista. Diante disso, evidencia-se a predominância de um feminismo hegemônico branco como “código secreto” que é ensinado através da universalização da experiência da branquitude. No que diz respeito ao desenvolvimento das pedagogias feministas, observa-se a manifestação de uma docência apaixonada, engajada e que reconhece o prazer político na criação de formas de resistência, tanto às iniciativas conservadoras quanto às de cunho neoliberal. Ao mesmo tempo em que é constatada uma engenhosidade e insistência feminista que desenvolve criativas estratégias para inserir perspectivas feministas mesmo em contextos refratários, são consideráveis os desafios estruturais como a intensificação e o isolamento do trabalho docente. Percebe-se o reflexo da atuação docente comprometida com a pedagogia culturalmente relevante na constituição de comunidades de aprendizagem, como espaços de construção compartilhada de saberes, de acolhimento à manifestação de fragilidades, a movimentos de reparação feminista e ao desenvolvimento da consciência crítica. Como reflexo disso, o engajamento do alunado e da comunidade mais ampla é apontado por docentes como um grande resultado positivo de suas práticas. Uma vez que confiantes nos processos e aprendizados partilhados, discentes também são observades em suas mudanças de atitudes: tanto na constituição do empoderamento que perpassa o reconhecimento da própria potência feminista (mas que não se resume a ele), quanto na expansão da criticidade sensível e reativa às manifestações de desigualdades. Diante de tais resultados, e dialogando com o pressuposto por Paulo Freire, Debora Diniz e Ivone Gebara, identifica-se uma pedagogia da esperança feminista manifesta na criação de futuros possíveis. Identifica-se a ação docente que, insatisfeita com a realidade desigual, cria pedagogias feministas a partir de princípios coletivos e que, a partir do reconhecimento de desafios e contradições, abre-se à crítica e à própria reinvenção. Interpreta-se essa feitura como parte de um movimento contra-hegemônico que insere novas verdades no senso comum, instrumentalizando educandas/os/es com um vocabulário feminista que tem a potência de promover – e que promove – transformações. |