O discurso da violência doméstica contra a mulher no Brasil: um estudo semiótico-discursivo sobre a perspectiva das vítimas

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Mola, Iara Cristina de Fátima
Orientador(a): Barros, Diana Luz Pessoa de
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Presbiteriana Mackenzie
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://dspace.mackenzie.br/handle/10899/39384
Resumo: Conforme assinalam os dados que retratam o cenário da segurança pública no Brasil, os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher seguem, ano a ano, alcançando índices alarmantes, não obstante as iniciativas diversas empenhadas no combate a esse tipo de crime. Nesse contexto, com vistas não só a que seja dada mais luz à temática igualmente por meio das pesquisas em Letras, como também no sentido de que os estudos de natureza enunciativo discursiva possam somar a esse combate mediante uma outra perspectiva, o presente trabalho tem como objetivo central compreender como se configura o discurso da violência doméstica sob a perspectiva das vítimas, nele tendo sido aventada a possibilidade de que, por intermédio dessa compreensão, seria possível identificar uma série de regularidades comuns ao plano do conteúdo dos 22 textos que compuseram o corpus. Sobre estes, todos foram coletados de uma página de rede social dedicada a “sobreviventes de abusos”, guardando em comum o fato de serem enunciados por sujeitos discursivos que se apresentam como mulheres e cuja situação de violência doméstica vivenciada, envolvendo dois ou mais dos cinco tipos de agressão que esse crime prevê, é reportada como tendo sido perpetrada pelo seu próprio “parceiro”. Assim, a fim de que o objetivo pudesse ser alcançado, respondendo-se às cinco perguntas nas quais ele se desdobrou, o trabalho se apoiou no ferramental teórico-metodológico disponibilizado pela Semiótica Discursiva, mobilizando os conceitos sintáticos e semânticos constitutivos de cada uma das etapas do percurso gerativo de sentido (PGS): os percursos narrativos e as modalizações, no nível narrativo; os cinco procedimentos de discursivização, no nível discursivo; e a oposição semântica mínima, no nível fundamental. Para esse exame mais completo e minucioso, foram selecionados três dos 22 textos, dos quais sobressaíram três tipologias discursivas que, por sua vez, orientaram a análise dos demais: a dos contratos sociais de constituição e manutenção da família, de felicidade conjugal e de persistência no amor “acima de tudo”. Quanto às regularidades identificadas nessas tipologias, o estudo permitiu observar que elas se aplicam a todas as etapas do PGS, destacando-se aí: a oposição semântica mínima comum a todos os textos contemplados, dominação vs. liberdade; a existência de dois destinadores-manipuladores persuadindo as suas destinatárias na aceitação delas em relação aos acordos – o destinador social, sempre pressuposto, e o destinador agressor, ainda na condição de “parceiro”; os valores modais que ambos lhes doaram – o dever-fazer e o querer-fazer; a sanção negativa que encerrou a narrativa de todas elas, sobretudo por parte do destinador julgador agressor; os percursos temáticos envolvendo a busca pelo seu estado conjuntivo com o objeto-valor em questão em cada contrato e a violência doméstica daí decorrente; e as figuras que recobriram, em especial, o primeiro percurso temático, denotando, no conjunto, o alinhamento ideológico das vítimas à própria visão de mundo de um destinador notadamente pautado pelos valores que visam à perpetuação de um sistema sociopolítico patriarcal, no qual às mulheres continuem cabendo os mesmos deveres-fazer – que, não por acaso, ele também as leva a querer.