Memória histórica e anexação da Crimeia: o papel das percepções do passado para o processo de legitimação da política externa russa (1999-2014)

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2025
Autor(a) principal: Araujo, Maria Eduarda Carvalho de [UNESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://hdl.handle.net/11449/296170
https://lattes.cnpq.br/7577751417713866
Resumo: Nesta dissertação, investigamos a relação entre a memória histórica e o processo de legitimação da anexação da Crimeia em 2014, articulando os estudos sobre memória, legitimação e segurança ontológica. Destacamos como o governo russo acionou a memória histórica para justificar a decisão de anexação em um discurso de legitimação. A abordagem teórica trata a memória histórica como um processo dinâmico, com a nação e os marcos históricos nacionais como principais referências, articulado pelas interações sociais e estruturas de poder. Nosso argumento central é que a memória histórica, inserida no contexto da segurança ontológica, desempenhou um papel relevante na estruturação da identidade nacional russa e na formulação de sua política externa pós-soviética. Assim, neste estudo abordamos a trajetória pós-soviética da Rússia, marcada por tentativas iniciais de integração com o Ocidente, seguidas pela adoção de uma postura pragmática e assertiva. Realizamos uma análise empírica dos discursos oficiais disponíveis no site do Kremlin, em inglês e russo, de 1999 até 18 de março de 2014, data do discurso de anexação da Crimeia. Para a análise dos discursos, empregamos a análise configuracional da ação social, que busca identificar os recursos culturais disponíveis e como estes foram acionados no processo de legitimação de uma decisão política. Identificamos que determinados elementos ideacionais da memória histórica pós-soviética foram acionados para reforçar a identidade nacional em estruturação desde o colapso da União Soviética e legitimar a decisão de anexação, diante das ameaças percebidas pela alteração da orientação política da Ucrânia em direção ao Ocidente e, em particular, as possíveis implicações de uma maior aproximação com a OTAN. Como principal contribuição, a análise revelou que a memória histórica presente no processo de legitimação da anexação da Crimeia foi tanto estratégica, pela relevância geopolítica da península, quanto identitária, envolvendo narrativas nacionais que conectam determinados marcos históricos. Essa articulação estratégica-identitária reflete uma associação dialética entre a memória histórica e as dinâmicas internacionais do pós-Guerra Fria.