A respiração como ferramenta para a autorregulação psicofisiológica em crianças pré-escolares: um estudo baseado na variabilidade da frequência cardíaca

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2016
Autor(a) principal: Cruz, Marina Zuanazzi [UNESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/143970
Resumo: INTRODUÇÃO: O aprendizado de habilidades de autorregulação contribui para um adequado desenvolvimento neurobiológico e psicossocial na infância. Neste estudo, investigamos a respiração como ferramenta para promover a autorregulação em crianças em idade pré-escolar. A modulação respiratória tem sido utilizada como técnica na promoção da regulação psicofisiológica, devido à sua ação benéfica sobre o funcionamento do sistema nervoso autônomo (SNA), ao seu importante papel na regulação do metabolismo e por promover o alinhamento de sistemas oscilatórios do corpo. O estudo teve como objetivos avaliar a capacidade de aprendizagem de uma técnica de respiração em crianças pré-escolares, contribuir para o entendimento de como a modulação respiratória atua sobre suas fisiologias e apoiar o desenvolvimento de estratégias educacionais e programas de intervenção em saúde que adotem a respiração como um método para promover a autorregulação psicofisiológica em crianças. MÉTODOS: Participaram do estudo 42 crianças na faixa etária entre cinco e seis anos. Todas receberam um treinamento diário, com duração de oito semanas, para a prática de uma técnica respiratória (respiração lenta, profunda, com tempos iguais de inspiração e expiração). Para a avaliação dos efeitos da respiração sobre o SNA, foram feitas análises da variabilidade da frequência cardíaca (VFC) nos domínios da coerência cardiorrespiratória, do tempo, da geometria, da frequência e do caos (não-linearidade). Dados da VFC (intervalos de tempo de batimento a batimento) foram coletados em dois momentos, com duração de cinco minutos cada: primeiro com as crianças em repouso e com respiração espontânea, depois durante a prática da técnica respiratória. Dados foram coletados ao final da primeira, da quarta e da oitava semana do treinamento. RESULTADOS: Houve um aumento significativo e progressivo da coerência cardiorrespiratória, com elevação expressiva na porcentagem de alta coerência (p < 0,0001), o que indica maior sincronização da função autonômica. Índices do domínio do tempo (Mean RR, SDNN, RMSSD, pNN50) e geométrico (SD1) apontaram para uma significante redução da VFC e da atividade parassimpática. Não foram observadas alterações significantes no domínio da frequência. No domínio da não-linearidade, houve alterações significantes em alguns índices específicos (ApEn, MSE área 1_5, DFAαl, ShanEnt e Lmean) indicando ganho de complexidade, otimização da fractabilidade e afastamento da linearidade, tudo isso representativo de melhora da saúde cardíaca. O grupo controle não apresentou diferenças significantes entre os dois momentos, exceto para um aumento da frequência cardíaca no segundo momento. CONCLUSÃO: A melhora progressiva da coerência cardiorrespiratória gerada por meio de autoaplicação da técnica de respiração, mostra que houve aprendizado, o que indica que crianças em idade pré-escolar são capazes de se autorregularem através de exercícios respiratórios. Isso torna a respiração uma estratégia promissora na promoção da autorregulação psicofisiológica em crianças. A respiração lenta e ritmada também mostrou efeitos fisiológicos bastante contundentes nas crianças. As análises mostraram redução da VFC e do tônus parassimpático associada a uma maior coerência cardiorrespiratória e ao aumento da complexidade do sistema cardíaco. Os resultados encontrados neste estudo contribuíram para o levantamento de uma nova hipótese: a de que a respiração lenta age seletivamente na regulação do SNA, aumentando ou reduzindo o tônus vagal, a depender do estado fisiológico inicial. Estudos futuros são necessários para testar e validar esta hipótese.